quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O conceito de devir-crianca sob analise



Universidade de Brasília
Faculdade de Educação
Departamento de Teorias e Fundamentos
Disciplina – Investigação Filosófica – 193151
Professor: Álvaro Ribeiro
Período: 2º/2008

Memorial de Infância sob a perspectiva histórica/fotográfica sob o critério do conceito devir-criança.

Restrições analíticas (Atenção)

O presente memorial de infância será apresentado de forma escrita e sob a forma de fotografias explicativas.

A perspectiva histórica está intrinsecamente ligada à infância do Saulo Fabrício e as crianças que também tiveram sua infância nesse ambiente. As fotos para outras crianças não serão significativas, históricas e não pertenceria ao conceito devir-criança.

Com isso se hipoteticamente, mostrarmos tais fotografias para uma outra criança qualquer, hoje adulta, tais fotos não terão significado aparente, não serão histórias, nem se quer estará presente no conceito devir-criança de Kohan. As fotografias são significativas e atemporais se e somente se for levada em consideração toda a infância do Saulo Fabrício e suas inerentes subjetividades.

Introdução

A infância é entendida por Kohan num primeiro momento como potencialidade. Infância como sendo uma espécie de matéria prima de utopias e sonhos de filósofos e educadores.

Na Grécia, passando pelo assunto justiça da polis, os pensadores (Sócrates principalmente), sabia da importância de se preocupar com a educação na infância, visto ser condição necessária para a equalização dos problemas da polis.

[Para se refletir]

Como seria a forma de abordar a educação na Grécia antiga para com criança de pais escravos? Não era tida a educação como ferramenta para se alcançar a justiça? Como seria abordado a contradição educação/liberdade?

O ciclo de educando, futuros educadores (chamado por Platão de Filósofos Reis) tinha o ser humano com um ser em desenvolvimento, numa relação de continuidade entre presente, passado e futuro.
Trata-se de ver a criança como possibilidade, potencialidade, seres que devem ser.

Sob Agambem, a infância é tida como uma condição da experiência humana. O papel do fenômeno da linguagem, do falar humano também se dá na infância. Característica essa única do ser humano. Comunicação complexa.

Uma outra questão de viés agora filosófica é citada.
Para os autores, a infância em sua plenitude, fragmenta o tempo em “duas” fases, em dois momentos.

Uma histórica, cronológica, mensurável, outra, difusa, simbólica, a concepção do devir-criança em foco.
Em outras palavras, uma infância é histórica, com uma fase cronológica e de mudanças biológicas para a criança (possivelmente “igual” ou “familiar” para toda criança), mas outra infância é a concepção do conceito de devir-criança.
Que é uma infância, atemporal, não mensurável pelo passar dos anos significativa para a criança e somente para ela. Por isso cita o texto em relação às duas temporalidades da infância: Uma é lógica e temporal, segue os números, outra brinca com os números.

Mais a frente complementa: No reino infantil que é o tempo não há sucessão nem consecutividade, mas a intensidade da duração. Uma força infantil, sugere Heráclito, que é o tempo aiónico.

Lembremos também que as duas infâncias do texto para o ser, para a criança são necessariamente interdependentes e acontecem de forma pari passu.





Exemplificações fotográficas e comentários gerais


(Foto 1 – Barra de exercícios)

Levando em consideração as restrições citadas inicialmente, a foto 1 tem significado histórico e de devir-criança para o Saulo Fabrício.
A barra de exercícios para a infância (devir, atemporal) é a maior barra do mundo. Assim, como a criança acha que o quintal de sua casa é maior do que a cidade, ou que as pedrinhas de sua casa são as maiores pedras do mundo.


(Foto 2 – Bloco D)


(Foto 3 – “Imensidão do Bloco)”.

Nas fotos 2 e 3, remete-nos novamente a concepção espacial para a infância (Saulo Fabrício), ou possivelmente a uma pequena criança que por ventura venha a morar no mesmo prédio e desenvolver a mesma percepção histórica e atemporal e mesmo assim, certas nuances atemporais, serão somente referente à cada pessoa.

Para outras não, não passa de um prédio “normal”, um ambiente “normal”, sem significado algum.*
*Poderia ser uma espécie de não lugar (antropológico).

O bloco D é o “maior” prédio de todos, é maior do que toda a quadra. Isso foi até o dia em que conheci os outros prédios, a quadra e outros ambientes.

Nota-se perfeitamente a distinção entre as duas infâncias em relação o tempo e ao espaço. O conceito de devir-criança é a percepção de uma pluralidade de seres, cada qual com mais ou menos a mesma infância histórica, mas nitidamente cada criança com sua infância não sob o mero passar do tempo, mas sim uma infância atemporal, que “brinca” com os números e com a lógica.

Essa infância não leva em consideração, pelo menos por uma lógica adulta, situações e conceitos do tipo:

- Grande e pequeno (será que uma criança entende o que é grande e pequeno?);
- Demorado ou rápido (será que uma criança de três anos entenderá que o pai irá passar o final de semana fora? Consegue mensurar nos termos demorado ou rápido o que seria um final de semana);

Assim, a medida é dada pela intimidade com que se tem contato com os conceitos grande, pequeno, rápido, demorado.

Provavelmente a criança não entenderá como demorado ou rápido termos como “final de semana” mas quando a mesma percebe que o pai ou a mãe não estará junto com ele, a primeira reação é de rejeição e/ou choro. Independentemente de ser um, dois, ou três dias afastados. Essa percepção cronológica ainda é relativa para uma criança de três anos...

Nota sobre as percepções infantis

É provável que crianças de 2 anos, ainda não saiba mensurar grande, pequeno, ou principalmente não percebe em totalidade o tempo. Não se tem idéia, a criança que se passou duas horas, ou dias. Agora se é associado à criança, o tempo como algo que “tira-lhe” o convívio com o pai, ou mãe, este chora, poderá ter reações de desânimo.

Tornar a não convivência da criança com os pais é também campo de início de carências afetivas, na escola, cabe ao pedagogo identificar comportamentos que demonstre falta de afetividade, desânimo para atividades normais e/ou cotidianas e trazer as melhores ferramentas pedagógicas visando desenvolvimento do aluno.

Reflexões finais

Vimos, portanto que o conceito de devir criança concebe a criança como um ser em potencial, uma possibilidade, um sistema aberto que permite assimilar sua subjetividade interna e também assimila estímulos externos.

Possibilidade essa que se encontra fora de uma lógica conhecida, o fenômeno (do devir criança) é abstrato e difuso por vezes, mas verificável levando em consideração o universo pessoal da criança.
Tal campo deve ser levado em consideração por educadores, mas deve ser levado em consideração no sentido não de podar esse universo significativo/lúdico e sim lhe dar o devido valor para a formação e desenvolvimento da criança. Essa consciência leva o Pedagogo a melhor compreender comportamentos, traumas, fobias etc de determinadas crianças.

Nesse universo, o quintal da criança é mais do que um quintal é o maior quintal de todo o mundo. As pedrinhas desse mesmo quintal não são meras pedrinhas sem importâncias, pois as pedrinhas do meu quintal são as maiores pedras de todas.
Nesse universo, barras de exercícios, prédios e árvores não são meros objetos comuns ao olho externo. Nesse universo subjetivo, a barra é a maior e mais alta barra de todas. E o bloco é o maior e mais familiar e aconchegante bloco existente.

O reconhecimento desse conteúdo mental e único em cada criança (falo do conteúdo da infância atemporal) deverá nortear políticas e metodologias de ensino-aprendizagem para a criançada. O fazer educação levando em consideração esse conteúdo pode ter uma importância fundamental para a formação de sujeitos.

Brasília, 22/08—11/09/2008.



ps - Para visualização das fotos - solicite-as ao criador do texto. Cienciadaeducacao@gmail.com

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©2007 '' Por Elke di Barros