segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O preconceito da deficiencia por CAVALCANTE (2004) - Uma resenha critica

Fonte teorica: CAVALCANTE, Andréa V. O preconceito da Deficiência no processo de Inclusão Escolar. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, 2004.


1)Introdução histórica sobre a deficiência e objeto de estudo da dissertação de CAVALCANTE 2004;


A República, a coisa pública no Brasil relacionado a políticas que abordam educandos com necessidades educacionais especiais possui um mote básico sobre tal problema educacional e social – a prática da exclusão. Inicialmente tal estado da arte sobre o problema hoje, está pautado no foco na própria deficiência e não no ser. Na medicação e no diagnóstico da deficiência e não numa avaliação cujo foco é o seu desenvolvimento não somente do “cognitivo” mas de suas potencialidades enquanto seres humanos, que apesar de “diferentes” (o que somos todos). Na delimitação de objeto de estudo a mestra CAVALCANTE (2004) irá abordar o tema sobre o preconceito na deficiência enquanto variável que irá estancar o processo ESCOLAR de inclusão. A autora CAVALCANTE (2004 a), tratará o tema preconceito sobre a matriz analítica de G. W. ALLPORT (ate um certo ponto) e também sobre uma antropologia de BUBER. Segue então o tema como uma construção de ordem histórico cultural sobre a deficiência, onde a pesquisa foi capaz de reconhecer os principais elementos que constrói o preconceito da deficiência. Remete-se então que seu objeto de estudo, se refere à ideia de que se avaliarmos tal literatura (ver os teóricos Allport e Buber) e os discursos dos professores entrevistados esta qualificação está sempre ligada ao conceito de\da deficiência. Em termos críticos sobre nossas políticas públicas, o esforço do Congresso Nacional em criar a EC n. 29 (que versa sobre os recursos para a Saúde), foram incomensuráveis, e ainda passíveis de não serem cumpridos. Como ter enquanto política pública, um esforço institucional político-administrativo para iniciar possibilidades de se instituir a cada dia, uma cultura (escolar e não escolar) de inclusão? Pensemos a frente, no que a dissertação poderia nos ajudar nesse sentido.

2)A parte teórica sobre o preconceito e a deficiência;

Tentando seguir os planejamentos de nossos anexos (I e II), vemos que a dissertação de divide basicamente em duas partes, uma primeira parte – um levantamento teórico sobre o preconceito da deficiência e em seguida uma parte mais empírica e de análise de dados coletados em campo sobre a vinculação (no discurso dos entrevistados) sobre o preconceito da deficiência enquanto DISCURSO analisado. Algumas questões inicias sobre seu levantamento teórico sobre o preconceito da deficiência é que, “o preconceito é como um conceito prévio de generalizações ligada à hostilidade, dependente também de uma matriz emocional” (CAVALCANTE 2004 p.14). Em suas ações negativas estariam as situações padrões do tipo: 1) Falar mal; 2) Evitar contato; 3)Discriminação; 4)Ataque físico; 5) Extermínio. Diz a autora que se diferem preconceito e discriminação, sendo essa última uma ação negativa do próprio preconceito. Nos instrui também a entender que, todo preconceito é um pré julgamento, mas nem todo pré julgamento é um preconceito. Cita também CAVALCANTE (2004b) que os significados da deficiência, até o Renascimento e o advento das ciências de uma forma geral e em especial da medicina que a deficiência era baseada em visões fatalistas do mundo pro vias sobrenaturais e também naturais... mas sempre relacionado a um processo de irreversibilidade, predestinação, castigo, possessão demoníaca ou maldição. Agora com o “enfoque” médico a deficiência entre em um novo patamar de conflito entre saúde x doença. “O médico agora é o novo árbitro do destino do deficiente. Ele julga, ele salva e ele condena” CAVALCANTE Apud Penotti (1984 p. 39). Surge o discurso eugenista que relaciona a questão da deficiência, quanto seres inferiores, genes de má qualidade ou homens e mulheres em uma raça distinta, ou numa espécie degenerada. Aqui, necessita o pedagogo(a) ou pesquisadores em geral terem um extremo cuidado teórico sobre questões em termos de espécies, ou das relações filogenéticas estabelecidas pela espécie humana que é, em termos epistemológicos (apesar de sua diversidade de fenótipos) somente UMA espécie, não subdividida em “sub- espécies” conforme querem nazistas e eugenistas de uma forma geral. Não existe por exemplo processo de especiação entre um pigmeu africano e um caucasiano nórdico. Todos são pertencentes a mesma espécie – apesar de grandes diferenças em termos de fenótipo. Nos séculos dezessete e dezoito, deficiência vista enquanto loucura ou enquanto sob uma dinâmica de patologia\doença. Para o fatalismo orgânico a deficiência se relaciona a um quantum de inteligência e que tinha como pano de fundo, ideias do tipo de caráter hereditário ou congênito. Traça a autora, toda uma análise teórica sobre como que dentro da história os significados atribuídos à deficiência impedem a realização de uma relação EU-TU, sempre reduzindo o deficiente num EU-isso. Ou seja, a redução do Outro (aqui um outro generalizado) num rótulo. Inverte de forma criativa algumas problemáticas secundárias de sua dissertação a autora CAVALCANTE (2004c), de que o deficiente em sentido pedagógico é um sedento por interação e saber. Ora, que irônico, igualmente uma criança ou um jovem “normal”, que está também dentro da dinâmica social e humana, enfrentando também desafios escolares e sociais. Defende a ideia de que o desenvolvimento acontece de forma diversificada e peculiar. Se indaga de forma crítica citando TUNES p.69 “Não estamos preparados para o deficiente, ou não queremos aceitar o desafio”, aceitar o desafio de ensinar alguém com alguma restrição.

3) A parte empírica e metodológica da pesquisa.

Seguindo também o que foi proposto em nosso anexo II, cita a autora CAVALCANTE (2004d), de que em termos metodológicos e de caminho empírico, captar e analisar os dados de campo não foi tarefa nada fácil. Se pergunta a autora: - Como estabelecer uma pesquisa não preconceituosa sobre o preconceito da deficiência e sobre os discursos dos entrevistados? Qual método escolher? Inicialmente foi aplicado um questionário qualitativos que sugeriu categorias principais do tipo: preconceito, deficiência, Inclusão e a identificação de barreiras para a viabilização de práticas em educação especial. Então, por meio de um roteiro de pesquisa semi-estruturada (30 perguntas) também se identificou os elementos constitutivos do preconceito da deficiência conforme as seguintes categorias: a) Redução do Outro; b) Sujeito da falta; c) Negação da Diversidade; d) O desencontro mediado; e) Descompromisso; f) O exílio relacional. Assim, dentro da dinâmica de seu trabalho de dissertação, a autora CAVALCANTE (2004e) cita que apesar das dificuldades de se estabelecer tal pesquisa, os instrumentos de pesquisa e seu próprio levantamento teórico se mostraram adequados para interpretar os dados captados em campo – onde a pesquisa teórica CONSTATA a pesquisa empírica, na identificação prévia de categorias que iriam qualificar essa deficiência, ora sobre discursos fatalistas, ora de controle e tutela do diagnóstico e de médicos, ora sobre a redução do outro, ora negando a própria diversidade humana, ora enxergando somente a deficiência num sujeito que sem lhe “falta” alguma coisa – influenciando a quantidade e a qualidade de suas amizades, de sua forma de se relacionar na sociedade... constatando um outra categoria teórica que sim, fora vista nos discursos captados em campo sobre uma espécie agora de categoria sociológica da deficiência – o exílio relacional que irá estancar a possibilidade do deficiente estabelecer relações profundas com o Outro, onde aqui no caso, numa relação de fato enquanto relação EU-TU. Porem, conforme o preconceito foi se construindo historicamente, por vias culturais diversas o primado do EU, não possibilitaria o reconhecimento de um Outro, de um TU, que se reduz agora num isso, num objeto... uma alienação (aqui alienação em termos marxistas mesmo) do homem pelo próprio homem que o coisifica, que o torna um isso – inclusive em seu discurso, inclusive em nosso discurso cotidiano na rua e logicamente – na escola. O reflexo desse discurso posto é justamente o freio em ações de inclusão. Uma impossibilidade hoje construída, mas que historicamente, sob o acúmulo de forças políticas e institucionais e de base pode desconstruir tais discursos pela prática e assim criar uma espécie de cultura da inclusão – porem isso aconteceria somente também por construções historicamente voltadas para uma cultura da inclusão.
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©2007 '' Por Elke di Barros