CORDEL – RACISMO, E COMO...AGORA E AQUI O FAÇO.
Introdução –
Contextualização histórica e algumas informações sobre o processo criativo em
cordéis e outras questões político educacionais.
Algo
em minha dita consciência de educador, não na consciência do educador teólogo,
mas minha consciência enquanto processo de síntese histórico/cultural, com uma
história e uma cultura de época restrita (dado o estado permanente de
ignorância do ser humano da modernidade), algo dessa consciência histórica me
diz que , se é possível admitir um pedido de desculpas
ao povo negro que vive sob a batuta de um racismo perigoso, pelo menos por
agora, nesse momento de criação, peço humildemente desculpas pelo racismo
institucional das polícias do Brasil e de um estado que democratiza seu racismo,
que se diz democratizante mas aparta de fato, cidadãos brasileiros de cidadãos
brasileiros. É nesse contexto que me
surge esse cordel.
Notem
que quando o autor fala de uma existência ou uma consciência é em sentido da
natureza[1] de todo esse projeto (o Traquinagens). Fala-se em consciência, mas em termos
históricos/culturais porém dentro necessariamente da
modernidade racista, que sob nossa concepção conjuntural está ruindo no
mantimento dessa mesma realidade racista que criaram.
Não
podemos admitir senão outro “fio de Ariadne” para se explicar o racismo como a
própria história do racismo enquanto ideologia, e nossa própria vida enquanto
relatora e redatora de uma sociedade que expressará seu reacionarismo racista
não como reprodução mas como constatação e
possibilidade de transformação de tal realidade doente.
As vezes subestimamos o poder
patológico do racismo como estruturador das relações sociais diversas e isso para
nós está se tornando um grave erro. Não no sentido de tornar as discussões, um
lodaçal higienista numa sociedade que já é
excessivamente medicalizada.
Se trata aqui, de uma pura
expressão discursiva, por meio da arte dos cordéis – por que
o autor não discute mais o racismo como inexistente, mas como axioma que molda
de sua identidade até políticas públicas na educação, no trabalho, nas relações
de consumo, na arte, na literatura, na escola, nos espaços públicos comuns onde
as polícias do Brasil praticam diariamente crimes racistas de lesa humanidade.
Isso
se dá, por que acreditamos que estamos negando a vida, a existência e ou
desabrochar de mentes criativas. O Brasil tá precisando de mais produção
literária, mais arte de base, mais crítica artística, mais produção
audiovisuais independentes para a problemática do racismo. E é também para isso
que se propõe esse espaço. Boa leitura Educadores(as)
e visitantes do Projeto Traquinagens. Esperamos que goste e mandem também seus
comentários, críticas e percepções sobre a temática do racismo e alternativas
para combatê-lo.
Racismo?
E como ...Agora e aqui o faço.
“Se pois, for
possível pedir desculpas pelo meu racismo. Agora e aqui o faço.
Se pois,
for necessário repetir pedagogicamente, não me fale mais do Pelé ou as cotas.
Agora e aqui o faço. Não se tem mais sentido político nisso tudo se dizes que o
racismo não existe.
Se pois,
for possível pedir desculpas, pela minha ignara aversão inconsciente de
aprender mais sobre a negritude brasileira e brasiliense. Agora e aqui o faço.
Se pois,
minha titubeante mente de cidadão confuso da modernidade, entrar em processo de
degeneração física e patologicamente começar a falar de forma racista,
antecipadamente sobre minhas escleroses, em desculpas adiantadamente faço.
Se pois,
for possível, ser intransigente com meus próprios estereótipos que formo do
povo negro, antecipadamente peço iluminação de outras mentes. Outras mentes,
cuja potencialidade, faça possível, aqui e agora, iluminar facetas do racismo,
de meu próprio racismo que ainda não enxergava.
Se pois,
possível for, interpor juízo a todo e qualquer espaço existencial de modo
sistemático e agudo, sob um forte “fio de Ariadne” para se explicar a história
e os espaços humanos que se expressam o racismo – ah, podem ter certeza sangue do
meu sangue assim farei, assim faço.
Entendo sangue como o
compasso dos orixás que em algum momento de sua existência transpassa a minha,
não como simples transposição metafórica de discurso, mas como linha
identitária cuja sua identidade, se confunde com a minha.
Se pois,
não for possível, meu discurso retorna aos flancos (dos ombros), à desresponsabilização – assim como faz minha sociedade com a
mãe preta, com as mães pretas, com nossas pretas ou brancas mães coralina. Cor
de alva, cor de interior, cor de mato, cor de barro, cor de fogo, cor de tacho,
cor de louro, cor de marco (literário).
Cor de um marco literário
tão profundo ao dizer sobre a cor de uma mulher de grampos invisíveis, que
alguns pensavam que era louca.
Essa ae,
essa invisível de grampo tinha uma cor tão nítida para com a cor do grampo, que
instituiu em seus livros – Maria grampim. Marias de grampos, Marias de cor
preta, Marias; enfim...
Se possível for, pedir
desculpas pelo racismo que a todo momento me cerra as
palavras. Aqui e agora o faço. Se impossível for, louvo as alvas consciências
que aqui me leem, mantenham a resistência, acumulem forças para galgar a
história – por que chumbo grosso, lá vem.
Justamente para vermos, a
invisibilidade de marias grampins,
tomando formas e espaços de grandes elementos yansânicos
de transformação. Disso não tenho dúvidas, tudo muda,
tudo se transforma. Se assim não for, agora digo, e agora faço. Tudo por um
momento, tudo por um espaço, falar de mansinho, para falar como faço, para
colocar em xeque o racismo, seja na marra, seja no passo.
Obrigado. Obrigado. Assim me
vejo, assim melhor me faço!”
(Pelo
Projeto Traquinagens 2013)
[1] Veja o link sobre a Natureza teórica Pedagógica do Projeto Traquinagens (2008) – Em: http://traquinagenspedagogicas.blogspot.com.br/2009/09/natureza-do-traquinagens.html