sexta-feira, 20 de março de 2009

A sociologia das manifestacoes francesas 2009



Considerações sociológicas da greve geral da França em 19/03/2009.Uma protosociologia, nos fenômenos sociais da França contemporãnea em suas novas tensões sociais no século XXI.

O Jornal Le Monde em 19-20/03/2009 estampou um mapa das mais de 200 manifestações que ocorreram no dia 19/03/2009 levando milhões de civis, trabalhadores, operários, camponeses, estudantes universitário a uma greve geral em favor do mantimento do emprego e do poder de compra dos trabalhadores.

Em janeiro de 2009 o governo Sarkozy liberaria 2,1 bilhões de euros num plano social de mantimento de emprego. Mas, dois meses depois uma gigantesca manifestação em greve geral aponta para um epifenômeno que já estava latente desde o início da crise e do próprio capital – aumentando cada vez mais o torno da mais-valia sob toda a massa trabalhadora no mundo.

No livro a EXPLICAÇÃO SOCIOLÓGICA de SOUTO, Cláudio e SOUTO, Solange admite-se que uma das dinâmicas sociológicas é o movimento em duas vias do SIV, representado como SIV-SIV no estabelecimento de uma interação sociológica.

Onde o "S" seria o sentimento sociológico, o "I" o ideário sociológico em determinado momento histórico, e o "V" volição, ou vontade (positiva) na realização da greve geral do dia 19/03/2009.

O Sentimento sociológico do povo francês (por sua já tradição social) seria o sentimento concreto na percepção dos efeitos concretos da crise global, intrinsecamente ligada à dinâmica e metabolismo do sistema capitalista. E a volição ou vontade positiva de participar de mais esse ato político, agora tendo um apoio maciço da iniciativa privada e de toda a população francesa – se vê inequivocamente como um contra ataque desesperado na tentativa de não sofrer todos os impactos do ideário capitalista.

Segundo SOUTO o aforismo deveria ser dinâmico para concretizarem uma interação sociológica. No fato presente, o que vemos é uma intensa convergência no aceitamento não um único ideário, ou um único sentimento de vontade, mas sim no enfrentamento do epifenômeno “crise capitalista” por meio de uma greve geral.

Como esse epifenômeno advêm da infraestrutura do capital e também tem comportamento cíclico, identifica-se um padrão sociológico nas crises, sendo que nenhuma delas, possibilitou emancipação e/ou rupturas com o sistema e a ordem vigente (vide revolução russa de 1917). Somente emancipações e rupturas parciais.

O que vemos, é uma desesperada tentativa de acúmulo de forças políticas (inclusive com forças que no dia a dia do trato político se veem como antagônicas), mas que nesse caso, por estarem diante de um epifenômeno do próprio capital, veem a necessidade de se juntarem ao corpo político dos trabalhadores/agricultores/estudantes na tentativa de pressionar o governo e as estruturas capitalista, mesmo não se identificando com seus respectivos ideários...

Tem-se em sentido marxista, uma grande contradição em se pensar nas relações sociológicas do universo do capital e do trabalho. Uma deformação do mundo do trabalho em contra partida com o mantimento crescente do torno da mais valia na camada pobre e trabalhadora forçou dentro do momento histórico e suas especificidades uma greve geral que levou milhões às ruas das grandes cidades francesas no dia 19/03/2009.

A França, país de tradição na práxis política, se vê amarrada, dependente, escravizada pela lógica do capital em toda sua história mercantil, até alguns pontos de rupturas parciais com a ordem vigente. Veja as tensões sociais de imigrantes pobres (argelinos, albaneses, africanos, latinos em geral) na queima de carros em 2006 nas cidades de Marselha, Lille e Lyon mesmo sendo oprimidos com a política “anti-morim” de Chirac, Villepin e Sarkozy.

Não se trata de romantizar o aforismo imaginativo de Mills (1970) numa tentativa de imaginar o quadro político francês num futuro próximo, mas sim tentar por Mills, encontrar um determinado padrão ou simbolismo desse agudo fenômeno social (a greve geral do dia 19/03/2009). Em sentido especulativo/filosófico...Talvez nada isso.

Quem sabe a criação de uma nova dinâmica social que poderá reverberar sob toda a sociedade mundial, podendo no futuro gerar novos padrões no acúmulo de forças sociais em detrimento à já estatuída condição do capital na sociedade e este, nesse momento histórico – aumentando o torno da mais-valia absoluta.

O ideário democrático está cada vez mais voltado não para uma democracia participativa, sob a lógica de Montesquieu mas sim para uma espécie de plutocracia neoliberal, branca e judaica-cristã.

A fetichização e a alienação do mundo do trabalho perverteu as relações sociais e culturais, numa mera relação quantitativa de capital. O reflexo disso no social, seria as tensões, os motins, as greves e a “desordem” sociológica.

Retornando ao aforismo de SOUTO (o SIV) claramente vemos no ideário do sistema em crise, um ideário rasteiro e escorregadio, de uma dialética de negação do outro impondo nas relações sociais a degradação máxima da vida humana e do universo do trabalho.

Manter sua estrutura e seu ideário neoliberal, pensando que a dinâmica econômica e da produção deve seguir o “espírito comercial livre” – fulcrado em Smith e sua mão invisível e também nas falácias pseudo políticas da impossibilidade do cálculo geral de uma economia centralizada/socialista, resultou só em janeiro de 2009 mais de 90 mil demissões diretas na França – segundo o LeMonde de 20/03/2009.

A cultura geral do capital é a sobrevalorização do próprio capital, em detrimento ao esmagamento do trabalho e dos trabalhadores. Não acontece sobrevalorização sem a exploração da mão de obra na cadeia produtiva capitalista.

Não se trata de um fatalismo marxista, mas sim, a realidade imposta da ordem capitalista, que inclusive tem chancela legal/jurídica para atuar. Uma contradição duplamente vista pela corrente marxista e por sociólogos em geral tentando identificar a pura dinâmica da sociedade moderna dentro do epifenômeno capitalismo.

O fatalismo da divisão em classe da obra maxiana torna-se uma generalização corroborada na e pela história do homem. Tal generalização pode ser relativisada? Sim. Mas a priori, sob o prisma sociológico geral, tal dinâmica ainda se estabelece pelo simples fato da ordem vigente ainda atuar dentro de seus mecanismos criados.

Seja pelo cambio, pelo financeirismo pedante, pelos dogmatismos econômicos seja pela alienação capitalista que culminará no aumento do torno da mais valia absoluta, seja por uma matriz de opressões legais e estatais na vida do trabalhador.

Essas dinâmicas assassinam civis e trazem lógicas proibitivas e coercivas ao globo, gerando tensões sociais (hoje globais) que concretamente mexerá de forma drástica na qualidade de vida e em todo o aforismo de SOUTO, inclusive na volição positiva da população civil que agora se une para um enfrentamento político da crise capitalista iniciada em 2008.

Um grande desafio se faz também ao Brasil, que infelizmente ainda não tem a cultura política de mobilização social para fazer frente ao capital ou se a possui; ainda de forma tímida e desorganizada.

No Brasil e América Latina, milhares já perderam o emprego e a cada dia veem seu poder de compra sendo corroído pela própria dinâmica do capital em seu câmbio, na inflação, nos juros, em taxas, impostos e inclusive na precarização do universo do trabalho.

Assim, (pensando na ideologia neoliberal) de forma hipócrita – a estrutura capitalista decreta lucros estratosféricos e não queima essa gordura financeira no mantimento de empregos e do poder de compra dos trabalhadores, fechando assim seu ciclo de sobrevalorização. Esse é o objetivo final do capital – sobrevalorização.

Esse epifenômeno de crise pode e deve ser analisado de forma sociológica. Inclusive para descartar juízos pessoais, opiniões destituídas de lógica histórica ou na romantização da realidade posta em seu atual estado da arte.


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©2007 '' Por Elke di Barros