Roteiro Crítico – FILME: Freud Além da Alma – Direção: HUSTON, John.
O escopo desse roteiro possui anotações sobre: Contextualização histórica da obra freudiana, conceitos importantes, cenário histórico e social, contribuições para a ciência e pedagogia, a associação livre de idéias (como metodologia da Psicanálise) e demais reflexões sobre a obra freudiana.
Viena, século dezenove. Após formação em neurologia, Sigmund Freud, cidadão tradicional e de personalidade vienense de “difícil trato intelectual”1 passa a estudar algumas sintomas e patologias, que a priori, eram mapeados somente pela medicina. A insensibilidade à dor, estados de enrijecimento muscular, confusões mentais dentre outros, passou a “neutralizado temporariamente” com a hipnose e a sugestão.
Após alguns estudos mais detalhados, Freud verificou a própria fala do paciente era via de cura para o mesmo.
Freud de fato queria ser um homem de ciência e assim ainda é considerado (não uma unanimidade – isso também seria impossível em termos científicos), ainda mais com suas proposições mais do que agudas, mas sim desconcertantes, imprevisíveis, por vezes abstrata demais (falamos de sua obra em geral), as vezes tão lúcida e descritiva que impressiona (Ver a Interpretação dos Sonhos – 1900).
Viveu num ambiente vienense do século dezenove altamente moralista e por pertencer também uma família judaica, se viu oprimido em todos os sentidos. Na academia foi achincalhado dezenas de vezes por suas proposições que quebrava um forte mainstream da medicina e neurologia da época.
O inconsciente como um constituinte do psiquismo que irá gerir boa parte de nossos juízos, mesmo o ser humano – se auto conceituando de um hominída sábio sábio (homo sapiens sapiens) e que apelando para Gramsci se torna Homo Sapiens e Faber (por causa do trabalho). Ou numa outra visão, agora por Morin – um Hominída (Homo), que sabe que sabe (sapiens sapiens) mas ao mesmo tempo é Homo Sapiens Demens. Um hominída que acumula saber mas também é demente e que não sabe ainda muita coisa, inclusive do inconsciente – ou do psiquismo.
A infância; como infância já de direcionamento libidinal ao complexo de Édipo, tendo após uma infância “equilibrada”, uma transferência desse desejo libidinal (primordial), de níveis inconscientes passa para o prazer ou desejo (e segundo Lacan – o prazer é o desprazer é a falta) de controlar o esfíncter (fase anal) e para relações de poder por vezes clara por vezes dissimulada (fase phállica – phallus como uma relação simbólica e de poder).
Nesse contexto o filme, mostra que algumas pacientes tinham, pelo diagnóstico, entendimento médico e tratamento de melhoras parciais – Freud, nessas "melhoras parciais" não se conteve e estudou mais o próprio discurso do paciente e pelo discurso começou a estrutura sua teoria ou suas teorias e obra – que ainda é paradigma na ciência. Sua metodologia se estabelece pela associação livre de idéias.
As descrições de inúmeras pacientes de Freud lhe deu material empírico e de possíveis quadros de como se estrutura o aparelho psíquico, como funciona e se funciona pela dinâmica do sistema ICS (inconsciente), por vezes, até por desejos e caprichos de egos aguçados ou até de situações de extrema pressão/opressão foucaultiana que podemos até especular e vislumbrar um superego moldando ou ajudando a constituir a personalidade.
E o que Freud viu e viveu? Uma sociedade confusa, dual e violenta. Extremamente violenta e que inclusive se compraz, deseja, tem prazer e goza com a destruição, com a destruição do outro, e que ao mesmo tempo esse outro pode ser também desejo, prazer e gozo que veem a dirigir seus pensamentos e ações – muitos, sem o conhecimento mesmo que rasteiro de fisiologia, neurologia, psicanálise e demais ciências do homem pode vir a não ter elementos científicos para descrever o que se passa consigo e com os outros e seria aí que entra a validade de uma TEORIA científica, da Psicanálise não uma doxa, ou conjunto de tradições de doxas ou o senso comum.
Pensando sob a perspectiva agora de seu texto clássico – O MAL ESTAR DA CIVILIZAÇÃO, e em termos sociais, não vemos muito diferença em termos de guerra. De uma forma conceitual – o capital, diferentemente nas guerras mundiais (contexto esse que Freud viveu – na Viena do século dezenove que foi bombardeada pelos nazistas e Freud teve que se mudar de sua cidade natal), se moveu juntamente com a indústria da morte para pequenas outras guerras, o que possibilita pequenas novos endividamentos, investimentos do grande capital para reconstruir... E assim, justamente assim que parte da entidade capital atua.
Ora, em termos psicanalíticos, o capital é uma criação humana, do psiquismo, idéias e ideais dos homens que de forma organizada ou não produzem em sociedade, mas que por vezes produzem para destruir e se destruir... Um cisma existencial e no próprio psiquismo humano que Freud dará o nome de Pulsão de vida (Eros, sexualidade, energia sexual) e Pulsão de Morte (Tanatos, destruição, energia de destruição).
Outras considerações relevantes podem ser feitas sobre a obra freudiana, da qual um arrazoado de poucas páginas não poderia dar conta. Porem vemos que, além de polêmica e de ser um grande paradigma existencial e científico, dever-se-ia lutar pedagogicamente e enquanto cidadãos para melhor difundir a Psicanálise e os estudos freudianos para a população.
Para o conhecimento pedagógico? Sim, contribuições inestimáveis. Para a escola pública brasileira? Ainda uma possibilidade muito, muito plausível para a composição de conhecimentos necessários para gestores, pais, funcionários, orientadores educacionais, estado, pesquisadores mais ainda pouco conhecida teoricamente e pouco refletida para as condições micro de cada escola.
Aos educandos não? Sim, mas somente numa dimensão mais de educandos, mas para dar vazão a ambientes psicanaliticamente e pedagogicamente mais saudáveis e menos violentos. Para dar vazão ao conhecimento, à livre pesquisa, ao livre questionamento, à exploração do mundo natural e a formação de uma cidadania equilibrada, coisa que ainda não vemos em termos sociais – a guerra urbana e rural brasileira trucida milhares ao ano.
Referências bibliográficas:
FREUD, Sigmund – A interpretação dos Sonhos (1900) (inclusive do Capítulo VII e a conceituação do sistema ICS e PCS);
FREUD, Sigmund – O mal estar da civilização;
MORIN, Edgar – Os sete saberes da Educação (Da visão de Homo Sapiens e Demens);
FOUCAULT, Michel – Vigiar e Punir – Cap I. Corpos dóceis (dos modais de manipulação);
GRAMSI, Antonio – “Os intelectuais e a formação da Cultura” (1981);
Ver demais teóricos da Antropologia Física e Cultural, aqui especificamente sobre um longo processo bioevolutivo e taxonômico compilado pela ciência na história natural dos hominídas –.
MUSSOLINI, Gioconda – “Evolução, Cultura e Raça” – Companhia Editora Nacional – 1969;
BIERGERT, J – “The evaluation of Characteristics of Skull, Hands, and feet for Primate Taxonomy”;
DEVORE, I, LEAKEY, L.S.B. and
MAYR, E – “Taxonomy Evaluation of Fossil Hominids” p. 346 et al;
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1 - Índice de Notas: Alguns estudiosos da obra freudiana afirmam que Freud tinha em personalidade difícil, controversa, por vezes de extrema intransigência teórica mas de percepção única sobre alguns fenômenos do psiquismo e personalidade humana. A vastidão de tratativas e valor conceitual e científico da obra Freudiana é de fato um bom começo para se saber mais sobre nós mesmos e com isso poder se educar e educar, atuar na cidadania.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Roteiro Crítico - Filme: Freud além da alma.
Postado por Ciência da Educação às 10:06
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