segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Resenha Critica - Livro (Psicanalise p/ pedagogos)






Resenha Crítica – Livro: Psicanálise para Pedagogos – (FREUD, Anna – Por Verlag Hans Huber Bern 1935 e Moraes editores, Lisboa 1973 – Tradução de Luís Pignatelli).

Antes de analisar o ensaio da autora Anna Freud, proporíamos uma questão que permeará toda a análise da autora e também dessas anotações. Ou seja, é possível conceber, planejar e executar – na escola ou na sociedade uma pedagogia psicanalítica? Ou uma Psicanálise Pedagógica? Ou ambas, ou somente uma delas? Se sim, qual? Sob quais critérios? Ou nenhuma das proposições? Se nenhuma, por que nenhuma? Se nenhuma qual linha a seguir? Aliás, é necessário seguir uma “linha”? Na pedagogia, existem pedagogiaS (no plural), sendo vista como pedagogia hospitalar, pedagogia empresarial, pedagogia psicanalítica?E o inverso, Psicanálise Freudiana, Lacaniana, Kleiniana...?

Ora, basicamente, para a mecânica do psiquismo – o processo de ensino aprendizado muda cabalmente conforme o lugar ou sua linha? Em se pensando na pergunta de Freud na Interpretação dos Sonhos ‘- se estaria ou não à procura de respostas para uma Psicologia Geral, de fato científica – seria prudente, sob o parâmetro da própria mecânica do psiquismo e das interações pedagógicas – dizer ou defender que existirá de fato uma metodologia, ou um “caminho das pedras pedagógicos” que faz por exemplo no “hospital” aprender “mais” ou “melhor”? Se sim, como chegaram a tais conclusões?

As proposições visam uma pedagogia geral – em termos conceituais? Não, porem o esboço de uma pedagogia geral seria uma espécie de “eldorado pedagógico”. Aos que se sentem felizes em ter teorizações como fim – que suas respectivas mediocridades lhe sirvam, mas para as anotações – a prática pedagógica dará o verdadeiro balizador de uma verdade teórica em estrito conceitual científico e pedagógico.

Pode soar à fábula da raposa e das uvas, uma racionalização freudiana.... Não! Nada disso, nem mesmo um pragmatismo sem norte. Mas a conscientização que não é possível uma Pedagogia neutra, mas uma pedagogia que afirme agudamente sob uma (theoria) científica a validade de sua prática, mas também a prática de sala de aula e/ou em ambientes pedagógicos que o conhecimento possa ser democratizado e que possibilite dar a síntese (da dialética) de formas de tornar mais eficiente e factual o processo de ensino-aprendizado.

Vamos às anotações e críticas a autora – FREUD, Anna – 1937. Ou ao mesmo tempo TUDO ISSO... As vezes o autor dessas anotações também pode estar inconscientemente, preso em paradigmas de sua incompetência pedagógica, de seu violento comportamento na sociedade ou de sua ainda não existência de uma conscientização pedagógica.

Ou seja, solicitaria conscientização, mas seríamos inconscientes... , solicitaríamos menos violência mas violentaria a mente alheia, dos educandos (ver transferências)...ou falaria da opressão do capital e oprimindo pares por ter um status, ou um certo posicionamento na sociedade brasiliense e até na comunidade da Faculdade de Educação (afinal ser discente da UnB lhe traz um certo tipo de “poder”) retornando como trabalho de Sísifo ao rolar a pedra de seu trabalho e destino eterna e ciclicamente na montanha acima e depois abaixo. Plausível?
Sim; admitimos em nós mesmos, em nosso “ser” civilidade (enquanto pedagogo), mas também uma dimensão de ser bárbaro, violento, machista, egoísta, mentiroso e dissimulado... Assim como provavelmente somos nós com nós mesmos (e muitos sequer sabem). Assim; provavelmente somos nós de paradoxo em paradoxo... negando e aceitando a culpa, negando e aceitando sermos a palma do mundo (justiça) e as vezes aceitando ou não o impacto direto ou indireto de nossas próprias ações.

As equilibradas ações de um psiquismo que sabe o que quer, sabe que pode se violentar, mas se castra... se educa (no sentido de nutrir), no sentido de alimentar uma educação para que pelo menos possamos suportar temporariamente a carniça física e a podridão moral e da construção de ethos em que vive o homem contemporâneo, em sua contemporaneidade na sociedade do capital, na sociedade moderna atual. Um verdadeiro “racha”, um verdadeiro cisma em seu psiquismo e existência da qual a autora tratará como pulsão de vida e pulsão de morte.

Logo no prefácio, para a quinta edição a autora informa que após conferências e ensaios sobre o “infantil” algumas proposições agudas são colocadas pela autora como: “intuições da Psicanálise sobre a vida anímica das crianças” a realização de uma pedagogia psicanalítica”.

Ora, poderíamos em sentido pedagógico, estabelecer que a vida psíquica das crianças possui somente uma dimensão anímica? Certamente não. E quanto à realização de uma pedagogia psicanalítica? Sim, existe a possibilidade mas algumas objeções paradoxais e algumas proposições duais e até paradoxais na literatura freudiana em termos da análise (psicanalítica) dos fenômenos pedagógicos – hoje, fenômenos pedagógicos contemporâneos.

Não nos parece que parte das proposições fundamentais da Psicanálise como o complexo de Édipo, algumas formas conceituais do inconsciente ou a própria estrutura conceitual do aparelho psíquico da literatura freudiana possa de fato, cercar com uma espécie de uma “panpsicologia” ou uma “panpedagogia” grande parte dos fenômenos que acontecem na escola contemporânea – inclusive dentro de uma dimensão estrita psicológica.

De fato, não vemos muito fundamento pedagógico (inclusive sob a égide vygotskyana), no estrito intuito de ENSINAR o homem (em totalidade psicofísica/existencial) partindo de proposições do tipo:

Está concebido como meio preventivo contra o abandono crescente das crianças e deve a sua existência à convicção de que é mais fácil exercer influência sobre os primeiros indícios de abandono e de associabilidade no ambiente livre do infantário, próximo da escola ou da casa dos pais do que, anos mais tarde, isolar os jovens afectados por fortes carências afectivas ou delinqüentes juvenis, em tentativas de educação, muitas vezes já sem esperança, nas casas de correção”.(FREUD, Anna – 1937 P. 13).

Isso por que, a autora está dentro de um contexto escolar vienense, sob uma sociedade que construiu um ethos através de uma sociedade extremamente aristocrática e eurocêntrica, moralista, psicologicamente afetada por um fortíssimo processo histórico de sugestão e autosugestão advinda da religião judaica-cristã.

Entendemos que a priori, o “é mais fácil exercer influência sobre os primeiros indícios de abandono e associabilidade no ambiente livre do infantário” como uma acertada diretividade em política pública educacional, mas em termos de OBJETIVIDADE pedagógica, por exemplo no ensinar 1/2 menos 1/15 avos, enquanto pesquisador e pedagogo, não aceitamos em teoria o determinismo da autora em dizer: “muitas vezes já sem esperança, nas casas de recuperação.”(Idem p.13).

A autora avança numa perspectiva de que crianças já são “pessoas feitas” e que podem ser afetadas por ciúmes, medos, aversões ou predileções. Informa a autora que um resgate dos primeiros cinco ou seis anos de vida é importante para uma estratégia pedagógica que vise identificar a formação do caráter ou particularidades.

Porem, por ainda uma falta de uma maior análise sobre a obra freudiana, não seria
prudente não estabelecer a validade científica de alguns conceitos de Freud como sua descrição do aparelho psíquico, as catexias e seus caminhos pelos sistemas ICS e PCS, seu rompimento em postulados (e isso é muito importante, pois Freud de fato estabelece uma theoria científica). Freud e a sociedade da quarta feira, muito deles eram homens da ciência da época e que acertadamente difundiram a psicanálise enquanto movimento social.

Anna Freud nos traz uma interessante fenomenologia do psiquismo das crianças é a lacuna de memória, ou um lapso de memória que seria um grande arquivo de conteúdo construído inconscientemente e que seguirá atuando ora disfarçada, ora perceptível (como tenhamos conhecimento da obra freudiana e vir se auto-analisando há um tempo razoável), ou com a ajuda de um profissional analista.
Muito da memória da infância “se perde” para a lembrança, para o cognoscível a qualquer hora.

Outro fenômeno importantíssimo para a análise da criança, segundo a autora é a energia (ou pulsão) infantil e como essa criança direciona essa energia infantil. Como ela se encontra sob a dinâmica edipiana a educação entraria para “reprimir os maus desejos que se dirigem contra o pai e irmãos, e impedir a concretização dos apetites que se dirigem à mãe.”(Idem p. 26).

Discorremos parcialmente da autora em sua concepção de ciência e das ciências pedagógicas na concepção do infantil quando diz: “Só a Psicanálise se livrou dos juízos, hipóteses e preconceitos, com os quais, desde sempre, o ser infantil tinha sido apreciado.” Não nos parecer convincente em termos científicos exclusividade de acerto na análise do psiquismo infantil – e que se choquem as teorias para ver qual ou quais passam pela Navalha de Ockam e critérios para se estabelecer uma theoria científica (verem anexos sobre). Isso pois, a priori, a ciência não afirma nem nega nada – irá metodizar seu pensamento conforme evidências e conforme a natureza do fenômeno pesquisado.

O direcionamento dessa libido, dessa energia psíquica, de sua pulsão – ora se mostra em pulsão de vida (afeto com a mãe inclusive outros fenômenos inconscientes). Ora em pulsão de morte pois “ Pensamos que a criança tortura animais, não por desconhecer que lhe causa dor, mas exactamente por que lhes quer causar dor”.
A autora na p. 33, sobre a educação, irá dizer que a mesma servirá para castrar, para inverter a moção pulsional da criança, quando essa se manifesta do tipo – pulsão de morte para a INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA, conforme diretriz política estabelecida anteriormente. E aqui reside um postulado, uma situação chave, para ilustrar da possibilidade de se estabelecer uma grande e virtuosa relação entre a Psicanálise e a Pedagogia.

Algumas palavras chaves seguirá na pauta de todo o livro como: transferência, sublimação, formação reactiva, complexo de Édipo, complexo de castração e finalmente libido para demonstrar teoricamente (aqui sob status científico), não sob o senso comum de sua interpolação com a prática, ou a práxis. Um engano corrente na maioria de iniciantes ao pensamento científico e que preocupa por ainda permear formadores de opinião, pedagogos com loongos anos de atuação em sala e que alem de repetir jargões sem sentido e que já foram superados por literatura epistemológica (exemplo KUHN, LAKATOS, CHAUMERS, POPPER, MARX et al) sem contar com a literatura contemporânea sobre o pensamento científico. Exemplo: DIAMOND, Jared e centenas de outros cientistas.

Para os objetos da autora, o período de latência irá se configurar na relação onde a criança – exterioriza energia (do tipo pulsão de vida, sexualidade, por Édipo) e também no comportamento destrutivo para com o pai e para com os irmãos, porem além de alterações fisiológicas e também do próprio psiquismo já está moldando (por assim dizer) a personalidade do educando e seu psiquismo em si – tudo para se preparar para entrar na puberdade e em outro estágio psíquico...

Outras excelentes anotações situacionais pedagógicas irá remeter o leitor para mudanças afetivas quando a criança fica doente, dos efeitos da assistência ao doente, das restrições de movimento, dieta e liberdade (aqui, segundo o filósofo ILICH, diz que para muitas crianças ficar parada é um verdadeiro inferno em vida, uma verdadeira autotortura), a significação da dor e do medo pela criança, ligações com médicos e pessoas da família que pode culminar em alterações da libido (as doenças) e portanto outros fenômenos psíquicos.

Em termos finais, um excelente panorama conceitual da psicanálise sob inúmeras variáveis vistas no ambiente escolar e que podem ou não afetar o psiquismo dessa fase muito especial para o ser humano que é a fase da infância.

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©2007 '' Por Elke di Barros