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Título
da cena: Pagu: Entre
padres, madres e macunaímas. [Como atividade criada livremente, de
natureza extra curricular e integrante da disciplina
Fundamentos da arte na Educação. FE/UnB (2014). –
1.
Roteiro em cena única – Criação e concepção de Traquinagens*. Em Brasília, 06
de Junho de 2014.
1.1 – Introdução – Narração
do contexto de cena
Em 1922 na cidade de
Santos em SP, Carla e seus pais (Maria de Jesus e José de Arimatéia) vivem
entre o conservadorismo religioso e político de sua época e as manifestações
livres da Semana de 1922.
Numa manha de quinta
feira, encontraram um furação indomável, encontraram
Pagu pela primeira vez quando a mesma passa fumando e com os seios à mostra bem
como com seus cabelos curtos e arredios, olha para a janela de sua casa na rua
tradicional Oito no centro de Santos, vê o estarrecimento dos pais mas também o
sorriso encantado de Carla, quanto Satanás, aliás Pagu,
sorri e manda um beijo ao vento para a família e segue descendo a rua...
Personagens: 1) Carla (filha), 2) Maria de Jesus
(mãe), 3) José de Arimatéia (pai), 4) Mendigo Delfus, 5) Senhorinhas da praça,
6) Narrador (que faz a “voz de deus” dos contextos da cena).
Figurino/cenário: Tradicionais da burguesia paulista
da década de 1920. Casa da Rua Oito, como um casarão modernista cuja estética
era da Belle Époque europeia (19 mas de arquitetura nostálgica abrasileirada também
caracterizada por pontos com Estação da Luz, Viaduto do Chá, Santa Efigênia,
bem como a estética dos casarões da década de 1920 em Santos e região. Para a
cena, o pano de fundo era uma rápida ascensão da burguesia paulistana em
detrimento ao surgimento dos novos bolsões de pobreza urbana.
1.2 Cena única (Diálogos)
Maria de Jesus (mãe):
[Com os olhos esbulhados Maria fica estática ao ver Pagu] Meeeu deus marido! É o fim do
mundo!
José de Arimatéia
(pai): [Ao ser puxado para a janela pela mulher José de também tem a mesma
reação da mulher ] O que, o q...mas mulher,
você não leu no acalipse? Jesus tá voltando. Mas que
mulherzinha repugnante e sem vergonha...quantos anos
tem essa rapariga, quinze?
Carla (filha): Fantástica!
(pai): Como?
(mãe): [a mãe continua
estática e com os olhos esbugalhados fica olhando para o nada] Meeeu deus marido, você viu
isso? É o fim do mundo!
(filha): [Fixa na janela
acompanha com o olhar Pagu] Fantástica! Linda!
(mãe): [estática] Meeeu deus marido, você viu
isso? É o fim do mundo!
(pai) [Olha para a
mulher e franze a testa coçando a cabeça duas vezes olhando novamente para a
filha] Como Carla, você também quer seguir a vida dessa
vagabunda da vida boêmia de santos, se deitando com qualquer estivador,
fumando, bebendo, se perdeeendo minha filha.
Sacrilégio. [aos berros fala sobre moral à filha, mas pensava em
chupar aqueles seios empinados de Pagu].
(filha): [Carla fica
estática com a imagem sacra/profana de Pagu e diz]: Fantástica!
Adorei! Quem é?
(pai): [Com o dedo em
riste] Eu lhe proíbo de saber que é essa talzinha
de Pagu. Minha filha, ela é a pior laia de mulher que pode existir, ela está
envolvida com essas coisas de comunismo, boemia, movimento de rua e culturas
profanas. Cultura mesmo é nossa tradicional cultura cristã, minha filha.
(mãe): [a mãe acorda
do transe da imagem de Pagu que viu pela janela] Marido,
Marido. Meeeu deus marido, você está vendo isso? É o
fim do mundo!
Pagu segue a rua, pisa na guimba que
restou, mostra novamente a língua e os seios para algumas senhorinhas daquele
tradicional bairro – uma desmaia, torna a olhar para frente e ouriçar os
cabelos; torna a esquina da Rua Oito desaparecendo da vista da janela da
família de Carla.
Duas horas se passam e
o almoço é servido naquela família tradicional onde todos da família de Carla
oram fervorosamente para a salvação de suas almas. Os pais conforme segue a
rotina, vão tirar uma pestana depois do almoço.
Quando acordam veem a
porta entre aberta com um recado da filha na cômoda da sala com os seguintes
dizeres: “Um furação, um espírito livre e
artístico me sequestrou e não volto mais para casa, pois a arte é a minha
verdadeira casa. Muito obrigado por tudo papai e mamãe e que Pagu.... ops, a arte, ops...[arram, Carla conserta a voz] e que deus lhes
abençoe”.
(mãe): Meeeu deus marido, você está
vendo isso? É o fim do mundo!
(mãe): Marido?
José de Arimatéia já estava
desmaiado fazia dois minutos e Carla já longe na rua, dava suas primeiras
tragadas, goles já era tocada nos seios e vulva por um
desconhecido e uma desconhecida ao mesmo tempo.
Escutou na rua um
mendigo (delfus) que gritava: E viva a terra das
pindoramas! E viva as pindoramas, vou te comer e vou comer seus ideais de
arte. Pindoramas, pintoramas, pictogramas! Deixe as
filigranas dessa vida medíocre e venha me comer Pagu meu
furação! Vamos juntos comer o Brasil racionalista e vomitar o Brasil da lascívia
descompromissa como todo bom Macunaíma que somos.
Queremos
enfim; ficar pelados do direito, descompromissados do paletó da moral e colocar
pra fora o ethos e a iconosfera
dos nossos falos(ares) e olhares sobre essa terra brasilis.
O pai e a mãe viveram
tradicionalmente por mais 35 anos. Carla nunca mais foi vista nas redondezas.
Recebiam esporadicamente cartões com dizeres: Amados, transem! Estou
com um grupo de ciganos perto de La Paz, a dois dias da festa para Pachamama. Ou com outros dizeres
do tipo: Amados, amem! Estou bem e estou
vivendo a dois meses na periferia de Montevideo com um
grupo de teatro local. Não me esperem para o almoço.
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