sábado, 12 de julho de 2014

Peça teatral em cena única. Texto para maiores de 18 anos. EJA com restrições didáticas.

ATENÇÃO - TEXTO RECOMENDADO SOMENTE PARA 1º SEGMENTO DE EJA. O PORTAL TRAQUINAGENS NÃO SE RESPONSABILIZA PELA SUA UTILIZAÇÃO EM OUTRO NÍVEL EDUCACIONAL. TEXTO CONTEM NARRAÇÕES DE NUDEZ E OUTROS. MATERIAL RECOMENDADO PARA MAIORES DE DEZOITOS ANOS CONFORME EXPRESSA LEGISLAÇÃO.

 

Título da cena: Pagu: Entre padres, madres e macunaímas. [Como atividade criada livremente, de natureza extra curricular e integrante da disciplina Fundamentos da arte na Educação. FE/UnB (2014).

1. Roteiro em cena única – Criação e concepção de Traquinagens*. Em Brasília, 06 de Junho de 2014.

 

1.1 – Introdução – Narração do contexto de cena

 

Em 1922 na cidade de Santos em SP, Carla e seus pais (Maria de Jesus e José de Arimatéia) vivem entre o conservadorismo religioso e político de sua época e as manifestações livres da Semana de 1922.

Numa manha de quinta feira, encontraram um furação indomável, encontraram Pagu pela primeira vez quando a mesma passa fumando e com os seios à mostra bem como com seus cabelos curtos e arredios, olha para a janela de sua casa na rua tradicional Oito no centro de Santos, vê o estarrecimento dos pais mas também o sorriso encantado de Carla, quanto Satanás, aliás Pagu, sorri e manda um beijo ao vento para a família e segue descendo a rua...

Personagens: 1) Carla (filha), 2) Maria de Jesus (mãe), 3) José de Arimatéia (pai), 4) Mendigo Delfus, 5) Senhorinhas da praça, 6) Narrador (que faz a “voz de deus” dos contextos da cena).

Figurino/cenário: Tradicionais da burguesia paulista da década de 1920. Casa da Rua Oito, como um casarão modernista cuja estética era da Belle Époque europeia (19 mas de arquitetura nostálgica abrasileirada também caracterizada por pontos com Estação da Luz, Viaduto do Chá, Santa Efigênia, bem como a estética dos casarões da década de 1920 em Santos e região. Para a cena, o pano de fundo era uma rápida ascensão da burguesia paulistana em detrimento ao surgimento dos novos bolsões de pobreza urbana.

 

1.2 Cena única (Diálogos)

 

Maria de Jesus (mãe): [Com os olhos esbulhados Maria fica estática ao ver Pagu] Meeeu deus marido! É o fim do mundo!

José de Arimatéia (pai): [Ao ser puxado para a janela pela mulher José de também tem a mesma reação da mulher ] O que, o q...mas mulher, você não leu no acalipse? Jesus tá voltando. Mas que mulherzinha repugnante e sem vergonha...quantos anos tem essa rapariga, quinze?

Carla (filha): Fantástica!

(pai): Como?

(mãe): [a mãe continua estática e com os olhos esbugalhados fica olhando para o nada] Meeeu deus marido, você viu isso? É o fim do mundo!

(filha): [Fixa na janela acompanha com o olhar Pagu] Fantástica! Linda!

(mãe): [estática] Meeeu deus marido, você viu isso? É o fim do mundo!

(pai) [Olha para a mulher e franze a testa coçando a cabeça duas vezes olhando novamente para a filha] Como Carla, você também quer seguir a vida dessa vagabunda da vida boêmia de santos, se deitando com qualquer estivador, fumando, bebendo, se perdeeendo minha filha. Sacrilégio. [aos berros fala sobre moral à filha, mas pensava em chupar aqueles seios empinados de Pagu].

(filha): [Carla fica estática com a imagem sacra/profana de Pagu e diz]: Fantástica! Adorei! Quem é?

(pai): [Com o dedo em riste] Eu lhe proíbo de saber que é essa talzinha de Pagu. Minha filha, ela é a pior laia de mulher que pode existir, ela está envolvida com essas coisas de comunismo, boemia, movimento de rua e culturas profanas. Cultura mesmo é nossa tradicional cultura cristã, minha filha.

(mãe): [a mãe acorda do transe da imagem de Pagu que viu pela janela] Marido, Marido. Meeeu deus marido, você está vendo isso? É o fim do mundo!

Pagu segue a rua, pisa na guimba que restou, mostra novamente a língua e os seios para algumas senhorinhas daquele tradicional bairro – uma desmaia, torna a olhar para frente e ouriçar os cabelos; torna a esquina da Rua Oito desaparecendo da vista da janela da família de Carla.

Duas horas se passam e o almoço é servido naquela família tradicional onde todos da família de Carla oram fervorosamente para a salvação de suas almas. Os pais conforme segue a rotina, vão tirar uma pestana depois do almoço.

Quando acordam veem a porta entre aberta com um recado da filha na cômoda da sala com os seguintes dizeres: “Um furação, um espírito livre e artístico me sequestrou e não volto mais para casa, pois a arte é a minha verdadeira casa. Muito obrigado por tudo papai e mamãe e que Pagu.... ops, a arte, ops...[arram, Carla conserta a voz] e que deus lhes abençoe”.

(mãe): Meeeu deus marido, você está vendo isso? É o fim do mundo!

(mãe): Marido?

José de Arimatéia já estava desmaiado fazia dois minutos e Carla já longe na rua, dava suas primeiras tragadas, goles já era tocada nos seios e vulva por um desconhecido e uma desconhecida ao mesmo tempo.

Escutou na rua um mendigo (delfus) que gritava: E viva a terra das pindoramas! E viva as pindoramas, vou te comer e vou comer seus ideais de arte. Pindoramas, pintoramas, pictogramas! Deixe as filigranas dessa vida medíocre e venha me comer Pagu meu furação! Vamos juntos comer o Brasil racionalista e vomitar o Brasil da lascívia descompromissa como todo bom Macunaíma que somos.

Queremos enfim; ficar pelados do direito, descompromissados do paletó da moral e colocar pra fora o ethos e a iconosfera dos nossos falos(ares) e olhares sobre essa terra brasilis.

O pai e a mãe viveram tradicionalmente por mais 35 anos. Carla nunca mais foi vista nas redondezas. Recebiam esporadicamente cartões com dizeres: Amados, transem! Estou com um grupo de ciganos perto de La Paz, a dois dias da festa para Pachamama. Ou com outros dizeres do tipo: Amados, amem! Estou bem e estou vivendo a dois meses na periferia de Montevideo com um grupo de teatro local. Não me esperem para o almoço.

 

 

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