segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Psicologia da Educacao - Psicanalise Lacaniana

Atividade 3 – Psicanálise lacaniana e Educação (Entrevistando Lacan)

Pergunta a
A linguagem em Lacan é fundamental. Veja o que diz o autor:

"É toda a estrutura da linguagem que a experiência psicanalítica descobre" (Lacan, 1957/1998, p. 498).

A perspectiva de Lacan é lingüística e não biológica como Freud se utiliza.Assim, vemos que a constituição da linguagem em toda sua extensão é que dará a forma social do sujeito juntamente com sua formação cultural.E que por uma série e conceituações como suas referências ao gozo, ao sentimento e ao desejo, que sempre lhe atribuía como o desejo do “outro”. Onde o “outro” seria o universo de atuação do inconsciente, diferentemente da consciência da matemática e/ou da lógica formal. Para saber mais ver (NOGUEIRA, Luiz Carlos et al em versão impressa ISSN 0103-6564 ou portal Scielo).Nesse sentido as perspectivas de Lacan na formação do Sujeito são pelas construções lingüísticas e culturais, todas significativas e que escapam de uma lógica matemática (por pertencer toda a fenomenologia lingüística ao terreno do inconsciente) e não da consciência no estado de vigília. A linguagem para Lacan terá a função inclusive de dar uma maior dimensão ao homem – não somente o homem biológico, mas agora o homem que concebe, produz e reinventa ou reconstrói sua cultura e sua forma de entender a sociedade e o cosmo.

Pergunta b e Pergunta d
Vejamos essa citação em Lacan sobre o conceito de Espelho:

“O eu, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho- este sou eu.(LACAN, Jacques E.)”.

E com isso vemos que o conceito espelho, primeiramente forma-se no inconsciente do bebê por ter já a figura da mãe que lhe “aparece” de forma “milagrosa”. Tal situação seria arquetípica? Talvez. Mas o fato é que Lacan torna o conceito espelho não com uma formação livre do sujeito, em movimento de interação com um mundo que é novo, mas sim pelo fato de se alienar naturalmente pelo espelhismo adquirido pelas interações, heranças e desejos intensos da mãe. Sua formação enquanto sujeito (fora dessa protoalienação advinda do espelho lacaniano) é que ficará reprimida enquanto potencialidade. O ser humano já nasce com uma noção de “eu” enquanto individualidade no outro, e na quintessência das interações sociais, do sócio, por o homem ser e ter uma formação SÓCIO/histórica.

Pergunta b (continuação) – Mas afinal, como atua o espelhismo na mente do educando, ou da pessoa que se quer analisar?
Lacan afirma que o conceito de espelho se constrói pelo entendimento lingüístico que os outros possuem de nosso ser e que à medida que o ser se aliena nas imagens formadas pela mente dos outros passa o indivíduo a enxergar um mundo, o meio e a si próprio numa série de espelhos paralelos e de forma ad infinitum. Isso significa que o espelhismo irá tratar de sugestionar o educando, ou até mesmo o professor para que ambos enxerguem e interprete estereótipos, classificações, preconceitos e construções sociais que não seria produto de sua auto-imagem, mas sim imagens disformes, imagens parciais do que os outros componentes de sua sociedade iram ter de sua pessoa. No ambiente pedagógico o espelhismo em forma paralela aprofundará e distorcerá a imagem que o educando possui do professor e também de forma inversa – o espelhismo, os “fantasmas” criados pelo professor também moldará a imagem que esse professor tem do educando. Essas imagens falsas são construídas socialmente e que podem acarretar distorções graves no processo de ensino-aprendizagem. Um exemplo: Falhas e ruídos na comunicação, bullying e suas infindas formas de atuar (seja por uma agressão verbal ou virtual) seja por uma agressão biopsíquica.


Pergunta e, Pergunta c

Dentro das escolas psicanalíticas, Lacan inovou e criou uma nova didática, uma nova pedagogia no trato como a doutrina de Freud. Forjou conceitos como o espelho e por uma abordagem também lingüística que Lacan desenvolve nesse campo, também possibilitou a Lacan a feitura de uma nova abordagem técnica da Psicanálise, com o passar do tempo, a ciência Psicologia avança e inúmeras outras correntes e tendências passam a trabalhar entre o universo lacaniano e freudiano, mas também admitindo a associação livre e conceitos de ambos. As aplicações na formação do professor e no campo didático/pedagógico são claras em detrimento sua aplicabilidade/operacionalidade no entendimento do educando, enquanto sujeito em formação sócio/histórica, em relação às causas de comportamentos agudos, no domínio de suas autoprojeções, opressões arbitrárias nos alunos.Enfim, dentro de uma possível formação do sujeito em Lacan onde o educando possa se “desalienar” parcialmente de seus espelhos e que o ambiente pedagógico possa ser virtuoso na exploração dessa potencialidade humana, que seja também significativo e que proporcione a formação de sujeitos. Toda essa situação também poderá ser aplicada de forma institucional por a escola ser um sistema aberto com a sociedade, cultura, política, religião e comportamentos gerais adquiridos.
Quanto ao trabalho docente, para Lacan o professor irá ser um mediador entre os sistemas de palavras, o professor terá a responsabilidade de decodificar signos/símbolos inteligíveis ao aluno e que também terá uma responsabilidade muito grande pelo fato de ser o professor – veículo da formação psíquica cultural básica dos jovens nas interações sociais. Tem o poder (o docente) de conduzir (e portanto controla) o entendimento do aluno às problemáticas da vida cotidiana. Assim tem o desafio o docente de não ser formal demais e também ter a responsabilidade. Tem em Lacan a perspectiva de que o professor deverá ter o cuidado de estimular a linguagem e a palavra para que assim tenha-se material para trabalhar no entendimento do aluno e do perfil do aluno, melhores estratégias para dar aula, entendimento do que se passa na mente dos educandos em sala, vinculando-os pela melhores formas de dar aula e se interagir no mundo da sala de aula, alunos, ambiente escolar.

Pergunta F – Apesar de seguir o modelo psicanalítico, Lacan faz algumas críticas a esse modelo, cite duas críticas exemplificando-as:
1) Quanto ao objeto de investigação: Lacan afirma em seus escritos p. 32 que por ser a Psicologia uma ciência que lida com o homem em suas múltiplas dimensões, o objeto de investigação do psicanalista pode ser por vezes relativo não subjetivo. Isso se dá pelo fato de que Lacan considera tais objetos antropomórficos e por assim ser, pode-se não ter uma visão (a priori) clara e aguda do homem a se estudar pelo método psicanalítico. Então, tratará de expor que o objeto da Psicologia se define também por termos essencialmente relativos porem tal situação não torna o modelo psicanalítico subjetivo mas com forte fundamentação teórica, resultando num caráter TERAPÊUTICO do método psicanalítico.
2) Afirma em seus escritos p. 26 que apesar das outras Psicologias criticarem as “associações” do modelo psicanalítico, seja pela doutrina, seja pela técnica empregada – Lacan admite a validade do método por que:

“...digamos que la teoría asociacionista está dominada por la función de lo verdadero. Esta teoría está fundada en dos conceptos: uno mecanicista, cual es el del engrama; otro falazmente tenido por dato de la experiencia, esto es, el de la vinculación asociativa del fenómeno mental. El primero es una fórmula de investigación, bastante flexible por lo demás, para designar el elemento psicofisico y que no introduce más que una hipótesis, aunque fundamental; la de la producción pasiva de este elemento, Es notable que la escuela haya añadido el postulado del carácter atomístico de este elemento, ya que es, en efecto, un postulado que ha limitado la visión de sus sostenedores hasta el extremo de hacerlos "pasar al lado" de los hechos experimentales en los que se manifiesta la actividad del sujeto en la organización de la forma, hechos por lo demás tan compatibles con una interpretación materialista que posteriormente sus inventores no han podido concebirlos de distinta manera. El segundo de los conceptos, el de la vinculación asociativa, está fundada en la experiencia de las reacciones del viviente, pero se extiende a los fenómenos mentales, sin que se critiquen en modo alguno las peticiones de principios, tomadas, precisamente, de los datos psíquicos, en particular la que supone dada la forma mental de la similitud, no obstante ser tan delicada de analizar en sí misma. Así se ha introducido en el concepto explicativo el dato mismo del fenómeno que se pretende explicar. Se trata de verdaderas jugarretas conceptuales, cuya inocencia no excusa a su tosquedad y que, como lo ha destacado Janet, representan un verdadero vicio mental, propio de una escuela, que llega a ser la llave maestra utilizada en todos los giros de la teoría. Inútil decir que así se puede desconocer por completo la necesidad de una especie de análisis, de un análisis que exige, sin duda, sutileza, pero cuya ausencia torna caduca toda explicación en psicología, y que se llama análisis fenomenológico.” (LACAN,J - Los escritos de Jacques Lacan – p. 27-8 - grifo nosso)

Ou seja, Lacan vê o método de associação psicanalítico com um método que tem uma função do verdadeiro – onde admite que o fenômeno mental é “verdadeiro” e que poderia apresentar uma técnica ou doutrina de dimensão mecanicista onde sofreria críticas de um modelo possivelmente atomista do fenômeno mental e também na vinculação de vícios técnicos ao processo de associação livre de Freud e que apesar de apontar tais vícios de técnica, Lacan irá validar a forma de analisar o fenômeno mental do qual chamará posteriormente de “alucinação verdadeira” – na tentativa de descrever que apesar da incapacidade de definição objetiva de objeto, técnica ou doutrina freudiana em alguns momentos, tais situações não tiram a validade da Psicanálise. Tem-se também a perspectiva de afirmar que o processo de associação tanto em Freud como em Lacan se aplicará nas reações de experiência do educando com a escola, professor, meio, sociedade ou família.
Enfim, Lacan inova a teoria psicanalítica por que inclui a dimensão lingüística e também cultural em sua análise na formação dos sujeitos. Então, seria pela linguagem, para a criança, uma linguagem também corporal ou sob gestos que a mesma dará significado ao mundo e começará a tomar consciência de seu próprio ser, de seu corpo. Assim, passam os pequen@s a terem uma imagem simbólica, agora com um entendimento mais complexo do que é o mundo, a sociedade e seu próprio ser é que possibilitará para Lacan, ter o professor, tutor ou responsável a sistematização e análise de elementos – ver considerações sobre a associação que possibilitem entender melhor filhos e educandos para que por essas informações possibilite traçar novas técnicas de ensino, novos materiais didáticos e formas mais eficientes de ensino que “case”, que harmonize com as peculiaridades psíquicas de cada educando, que agora terá que se interagir com outros educandos, forçando a boa dicção, a verbalização de desejos e seu desenvolvimento motor e biopsíquico no ambiente escolar e sociedade da qual pertence o educando.

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©2007 '' Por Elke di Barros