sexta-feira, 5 de agosto de 2011

HEB - Artigo Final: Representações Sociais do Corpo...






REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO CORPO HUMANO NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E A PSICANÁLISE ENQUANTO FERRAMENTA PARA COMPOR INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS SITUACIONAIS NOS ESPAÇOS ESCOLARES EM EDUCANDOS DAS SÉRIES INICIAIS.

Resumo

Esse artigo trata da história da educação e da história do movimento psicanalítico em tentativas de traçar alguns paralelos em termos teóricos e práticos sobre como resolver conflitos pedagógicos situacionais e até como resolver teoricamente encruzilhadas que passam os educadores no tocante ao tema sexualidade infantil e o trato com o corpo nos ambientes escolares e familiares. Tem o artigo, uma dimensão além do pedagógico e além da psicanálise – ou seja, uma dimensão filosófica existencial que leva e eleva tanto a Pedagogia quanto a Psicanálise para uma ética profissional que inclui tomar decisões sejam decisões em intervenções pedagógicas ou decisões políticas em como lidar com a temática (sexualidade) na escola.

Abstract

That article care for the history of the education and of the history of the psychoanalytical action in attempts to trace some parallels in terms of theoretical and practical to about solving pedagogical conflicts that can or to do not occur and even how to solve theoretically crossroadses that pass the educators concerning the infantile sexuality theme and the treatment with the body in the school and family environments. It has the article, a dimension besides the pedagogical and besides the psychoanalysis – in other words, an existential philosophical dimension that carries and elevates so much the Pedagogy regarding Psychoanalysis for an ethical professional who includes take decisions be decisions in pedagogical interventions or political decisions in how to work with the thematic at school.

Word Keys: History, Education, Sexuality, Pedagogical Intervention, Psychoanalysis.

1 - Introdução

Durante o período histórico, os diversos discursos sob a sexualidade e as representações corporais do homem e da mulher, tem influenciando a estrutura do Estado, da família e até da escola. Assim como os discursos, (geralmente em senso comum) sobre a sexualidade moldou nosso comportamento sexual também a sociedade foi moldada por tais concepções. Durante o artigo, veremos algumas dessas representações sociais sobre a sexualidade e essa na sociedade – e que por sua vez, também estará presente na escola.

Ainda na baixa Idade Média, a institucionalização dos prostíbulos, o controle do corpo da mulher, as diversas implicações da doutrinação de ética cristã mudou e ainda muda, a própria sociedade humana em termos da família, das concepções dos sistemas normativos, da concepção do Estado (antes absolutista) e depois monarquista e republicano, a configuração da propriedade privada e do capitalismo.
Porém, onde se encontrariam as conexões históricas entre a sexualidade humana e sua própria configuração social? Em termos introdutórios, para o artigo, a sexualidade humana se estruturou na família, primeiramente para o próprio mantimento da espécie – iniciou-se uma “família” poliandrica. Ou seja, grupos de homens (machos) “casavam” com grupos de mulheres (fêmeas), tudo numa dimensão rústica, naturalista, nômade e provisória. Com o passar do tempo e com um domínio mais avançado de ferramentas e do fogo – o homem se estabeleceu em uma família poligâmica em um único lugar (inicio da propriedade privada) e pelo rústico domínio da agricultura e criação de animais, possibilitou a produção de excedente e assim começou a era de um proto-mercantilismo. Nesse período, tanto a sexualidade, quanto o conceito de família – nada se compara aos conceitos atuais de sexualidade e família. Atualmente, a “normalidade sexual” seria o comportamento heterossexual e uma família tradicional seria a família monogâmica institucionalizada. Tal situação advém da moralidade cristã e de toda uma ampla jurisprudência que trará impressa em nosso código civil – as normas do contrato de matrimônio entre somente um homem e uma mulher.
De uma forma geral, existiria uma intrínseca relação entre sexualidade, a família e a estrutura do estado e da propriedade privada – culminando no estabelecimento de um código de natureza civil.

As devidas conexões desses entes podem ser vistos no amplo trabalho de ENGELS, F (1881) e também, de forma indireta em seus manuscritos sobre a variável violência na conjuntura histórica sobre a sexualidade.
Na antiga França de Carlos IX, os bordéis institucionalizados possuíam regras, porém – a legalidade da prostituição era somente “pano de fundo” para a manutenção das famílias da burguesia que ainda tentava se estabelecer. Tais casas de “mulheres públicas” tinhas regras, mas dentro de um contexto absolutista e machista do século XIV.
Tendo por data provável 1504, a clássica iconografia de BOSCH, H em sua tela central intitulada “O jardim das delícias”, colocará o corpo (principalmente o corpo feminino) e a sexualidade entre o céu e o inferno – alguns analistas dirão que a tela será financiada por pensadores livres, não pela Igreja por retratar a sexualidade como algo da vida humana mas movida pelo pecado e que por assim ser está passível do julgamento divino – colocando o ser humano num estado existencial “entre” o céu e o inferno e a visão da sexualidade que afirmavam como algo entre o profano e o sacro.
As dimensões históricas dessa sexualidade irão permear todo o conhecimento antigo. Na Grécia, os sátiros foram registrados em peças de cerâmica com o falo em riste na prática do onanismo. Em diversas culturas, totens foram feitos com seus devidos falos (possivelmente na caracterização do macho), enfim – inúmeros registros iconográficos e literários sobre a sexualidade e o corpo de uma forma geral.
Tais situações são para demonstrar que as amplas dimensões históricas sobre a sexualidade existem e devem ser consideradas num profundo olhar histórico/historiográfico para mais clareza desse complexo tema.
Para o presente artigo, a necessidade da delimitação de um objeto de pesquisa que tornasse mais claro qual dimensão ou quais dimensões da sexualidade e sob qual viés argumentativo deveríamos tratar sobre o tema que surgiram várias outras questões que derivaram da tentativa de delimitar um objeto de estudo que contemplasse a história, a sexualidade e a educação.
Face tais restrições acadêmicas, porem necessárias – foram iniciadas as possibilidades da delimitação do nosso objeto de estudo e suas reverberações posteriores.
Inicialmente, pensando em contemplar a História, a sexualidade e a educação, tivemos que escolher algumas “pedras de toques” para balizar nossa visão teórica sobre o tema.
Com isso, e de forma inicial, vemos na Psicanálise (tanto freudiana, quanto lacaniana) nossa principal fonte teórica, juntamente com todo o escopo das tratativas da História da Educação Brasileira para delimitação do objeto de estudo – sobre a sexualidade.
O tema educacional do tipo “intervenções pedagógicas” – surgiu em discussões em sala de aula do curso da Pedagogia na tentativa de restringir nosso objeto de pesquisa para a prática pedagógica na escola contemporânea, ou nos espaços escolares atuais.
Alguns exemplos foram registrados (para a delimitação do nosso objeto de estudo) – a saber:
a) Intervenções pedagógicas na escola contemporânea em termos de práticas e manifestações práticas em educandos do ensino fundamental no trato com o corpo;
b) Intervenções pedagógicas na escola contemporânea em educandos do ensino fundamental no trato com o corpo e com o corpo do outro;
c) Intervenções pedagógicas na escola contemporânea em educandos do ensino fundamental no trato com o corpo sob a perspectiva da Psicanálise;
d) Intervenções pedagógicas na escola contemporânea na resolução de conflitos pedagógicos entre pais e filhos a respeito do trato com o corpo e com o corpo do outro;
e) A Psicanálise como ferramenta para compor intervenções pedagógicas planejadas nos espaços escolares no trato com o corpo e com o corpo do outro em educandos do ensino fundamental;
f) A Psicanálise como ferramenta para compor intervenções pedagógicas planejadas nos espaços escolares em educandos do ensino fundamental em questões que envolvem o corpo e a sexualidade infantil;
g) A Psicanálise e a experiência da clínica psicanalítica como ferramenta para compor intervenções pedagógicas intencionais e planejadas nos espaços escolares em educandos de séries iniciais no trato com o corpo e com o corpo do outro;
h) A Psicanálise e a experiência da clínica psicanalítica como ferramenta para compor intervenções pedagógicas situacionais, intencionais e planejadas nos espaços escolares em educandos das séries iniciais no trato com o corpo e com o corpo do outro;
i) A psicanálise e a experiência da clínica psicanalítica no entendimento das representações imagéticas da sexualidade e do corpo humano durante a História e tais reflexos na escola contemporânea em termos de intervenções pedagógicas situacionais;
j) Representações sociais do corpo humano na História da Educação Brasileira e a psicanálise enquanto ferramenta para compor intervenções pedagógicas situacionais nos espaços escolares em educandos das séries iniciais.
As tentativas de delimitação do nosso objeto de pesquisa convergiram e se assentou basicamente no item “j”, pois entende que mesmo delimitando nosso objeto de pesquisa ainda sim – tais objetos podem advir outros temas secundários que ajudam a compor um cenário de explicações sobre a sexualidade – mas de ordem mais primária, ou seja, da própria essência do objeto de pesquisa.
Fora estabelecido também outros objetivos secundários que ajudariam nossas justificativas básicas no tocante ao nosso objeto de pesquisa. A saber:
Alguns objetivos específicos e características gerais do objeto de pesquisa (a sexualidade no espaço escolar durante a história):
1) Construção de representações históricas;
2) Envolto na dualidade Identidade/Diferenciação (necessariamente a existência de relações de poder);
3) Complexo e polissêmico (no sentido moriniano do termo);
4) Necessita de uma visão teórica (diferentemente do estabelecimento de doxas avulsas);
5) Necessita superar dialeticamente o discurso anacrônico (pela crítica) identificando a visão histórica das diferentes épocas – desde a instituição estatal e pública da – escola – enquanto fenômeno social também envolto pelas características de um até quatro;
6) Superar, pela disposição da característica quatro, avançar numa crítica formal na questão das representações históricas ateóricas, ahistóricas, geralmente sob senso comum do embate no estabelecimento de categorias (de conceitos) e pseudo categorias sobre o fenômeno sexualidade na sala de aula, na escola contemporânea;
7) Identificar o discurso e criticar as pseudo categorias de conceitos sobre a sexualidade na escola em termos de: a) Normatização; b) Exclusão/Inclusão, c) Classificação;
8) Para atendimento do objetivo 4 e correlatos, estabelecer basicamente como “pedra de toque” teórica – Freud, Lacan, Safouan, Foucault, Paula Ribeiro et al (1994), Engels, F (1889), Michel Bozon (2002);
9) Identifica o teórico Bozon (2002) em – Sociologia da Sexualidade - que a conjugalidade é assunto de foro FAMILIAR e que quando a família e a configuração dessa “conjugalidade” entra como assunto de pauta escolar – tal objeto de pesquisa se mostra extremamente sociológico, simbólico, fluido e contraditório para a prática docente;
10) Admitimos uma intrínseca relação política/econômica para com nosso objeto de pesquisa. Isso se dá por que existem conexões históricas entre configurações da família (poliandria, poligamia, monogamia, monogamia institucionalizada) àAmpla jurisprudência voltada para a propriedade e a herança (no Brasil ver – Código Civil/Base CC Alemão) à Manutenção da lógica capitalista global;
Com as anotações de “a” até “j” e das anotações secundárias de “um” até ”dez” ficaria mais fácil delimitar ainda mais nosso objeto de pesquisa que se assentou basicamente no item “j” do mesmo. Isso também significa dizer que nosso objeto de pesquisa sobre as representações sociais da sexualidade no espaço escolar não está também de forma coadunada (junta) com outros objetivos específicos e secundários.
Assim, para o artigo – foi estabelecido para uma maior precisão descritiva de sua estruturação básica em quatro eixos (item dois – das justificativas) de como entender melhor essas representações sociais da sexualidade e como o educando inicial traduziria tais representações e dos conflitos inerentes do tema no meio e no ambiente escolar – inclusive incluindo pais e/ou tutores e responsáveis cujo conhecimento geralmente se apresenta em senso comum.
Dentro ainda de uma contextualização histórica, na Grécia o ensino era basicamente para os meninos e para a composição de exércitos e manuseio de armas. Para Phillipe Áries (1981), tanto a disciplina, quanto a série em detrimento a idade do aluno, responsabilidade moral do mestre, a instituição dos colégios já no século XIII ajudaram a compor o estado da arte pedagógica com relação aos seus próprios fluxos hoje e sob uma perspectiva da história da educação, a sexualidade também ajudaria a compor hoje, um excessivo controle do corpo e um excessivo controle pedagógico sob tudo que alude aos seus próprios fluxos na escola.
No centro dessas variáveis, sobre a História da Educação e como hoje a escola se configura – está o homem e seu corpo, com representações de identificação e de diferenciação e com inúmeros paradoxos quando a perspectiva desse homem histórico é visto pela sexualidade.
Vamos agora, no item dois falar das justificativas principais, das principais proposições freudianas/lacanianas – principalmente sob a visão do psiquiatra Lacan e de seu conceito de espelho para tentar fazer explicar, por uma teoria científica, nosso objeto, iniciando assim a descrição parcial do que é e como se constitui essas representações sociais na história da sexualidade e tais representações no imaginário de mestres e pais, no senso comum da sociedade civil e para os ambientes escolares onde na própria concepção de professores avaliando comportamento sob o senso comum por exemplo no vínculo direto do toque do genital a algo imoral ou “sujo”.
Torna-se muito comum o controle físico e simbólico do discurso de professores do primário em dizer: “Guarda isso (pênis) Joãozinho! É sujo e não pode mexer” ou dizeres do tipo “Eca! Joãozinho, nunca mais faça isso (mostrar o genital), isso é sujo, feio e ainda vou contar para sua mamãe”..
E numa dimensão maior como entender o ensino e a aprendizagem da sexualidade quando perguntada pelos alunos na escola? Mestres e professores dirão – “ah não, já tenho que dar todo o conteúdo e ainda tenho que ensinar sobre sexo/sexualidade?”.
Ou algo do tipo que muito se escuta de pais, “sobre a orientação sexual, sobre sexualidade do meu filho ou da minha filha – cuidamos nós, eu e minha esposa”. Quanto à última proposição os pais têm pleno direito, mas e se o próprio educando perguntar sobre sexo/sexualidade em ambiente escolar? Falaremos aos iniciantes para perguntarem isso aos pais? E o estancamento do processo de ensino e aprendizado? E a confiança e vínculos afetivos entre professores e alunos? E a secção desse mesmo processo para com toda a turma? Como se não houvesse tabus e dificuldades sobre a temática que deveria sim, ser tratada dentro de sala de aula, sem achismos, com confiança, com o saber científico, com as possibilidades profiláticas e de prevenção a gravidez e DST e principalmente para o peso de uma acertada intervenção pedagógica sobre o tema em termos de desmistificação e ampliação da ação pedagógica dentro de uma naturalidade madura, se possível tendo um caráter de ensino não romântico (piegas) mas também não somente de forma biológica/mecânica, mas psicanalítica e genuinamente pedagógica.

2 – Das justificativas teóricas para as intervenções pedagógicas situacionais

O fundador da Psicanálise, enquanto campo epistemológico distinto de outras linhas da grande ciência Psicologia, trouxe inúmeras contribuições teóricas, juntamente com a própria evolução do movimento psicanalítico e das clínicas não só para a educação mas para a própria ciência de como se estruturaria o psiquismo humano, juntamente com a possibilidade de trazer conforto para quem sofria da psique.
Em uma rara gravação de voz de FREUD pelo documentário – A invenção da Psicanálise por ROUDIOUNIESCO, Elizabeth (1999) temos o seguinte contexto que inclusive ajuda a explicar e a justificar os contra argumentos de determinismo da própria obra freudiana. Assim temos:

“Comecei minha vida profissional como neurologista tentando aliviar os meus pacientes neuróticos. Eu descobri alguns fatos novos e importantes sobre o inconsciente. Dessas novas descobertas nasceu uma nova ciência – a Psicanálise. Eu tive que pagar caro por esse pedacinho de sorte. A resistência foi forte e implacável. Finalmente, eu consegui. Mas a luta ainda não terminou. Meu nome é Sigmund Freud”.

Já na antiguidade, a histeria era considerada como uma doença “do útero”. As analogias vêm de amplos históricos e que somente na França, somente no Hospício de “La Salpetriere” (1850) de cinco a seis mil mulheres foram investigadas pelo psiquiatra Charcot – que influenciou diretamente a teoria freudiana e a psicanálise, juntamente com os novos resultados terapêuticos. Não se falava somente das doenças da mente por uma organogênese – mas por desequilíbrio da própria linguagem da sexualidade – que se convertia em uma linguagem agora orgânica em convulsões, em espasmos, em delírios agudos, nas “vozes” e toda uma série de rupturas de estruturas básicas desse psiquismo.
Lembremos que, nosso objeto não é um objeto psicanalítico, mas pela psicanálise e pela perspectiva historiográfica – dizer do que muito que é aprendido e ensinado na escola em termos de sexo e/ou sexualidade é puro achismo ou até uma excessiva preocupação ética de pais que veem perversão ou a necessidade de uma nosografia em diagnóstico para tudo que o aluno ou a aluna faz em termos de exploração de seu próprio corpo ou na verbalização de alguma questão sobre a temática.
Geralmente, o superdimensionamento de assuntos correlatos ocorre quando nem o professor ou os pais domina o tema, e então passa a ser veículo para uma educação do puro e exclusivo obscurantismo sem norte, do fanatismo, do preconceito da “maniqueização” do tema em divino ou demoníaco, entre pólos de bom e mau, belo ou feio, sagrado ou profano, ético ou anti-ético, moral ou imoral – mas nunca uma análise que perpasse doxas avulsas...sempre achismos doutrinadores que discursa argumentos falsos sob uma grande variedade – da autoridade (ad baculum) até falácias de abstrações.
Porém, ainda não seria suficiente para argumentar com alguns campos da ciência e até da psicologia. Lembremos que para uma perspectiva vigotskiana, torna-se quase que inaceitável conceitos do tipo inconsciente, já que este tem como “guia” a construção histórico-cultural de cada ser.
O que queremos demonstrar é que deveria ser uma deliberação intencional a escolha de “pedras de toque teóricas” (mesmo que contraditórias) para melhor explicar nosso objeto de pesquisa. Como a perspectiva é também sobre a sexualidade dentro da história e essas mesmas estruturas no imaginário popular em reflexos no ensino e aprendizado nada mais justo do que trazer as categorias e os conceitos de FREUD e LACAN para dar o devido desenvolvimento epistemológico ao tema.
Freud passa uma grande parte de sua vida científica tentando achar proposições para uma Psicologia geral. No livro – Interpretação dos Sonhos (1900) o cidadão vienense chega em algumas proposições centrais, chega a alguns axiomas que permearam toda sua obra. De forma muito superficial – o biológico, o orgânico no homem (em termos sexuais) claramente possui uma energia sexual que se materializa não somente em sêmem ou fluidos vaginais, mas que no psiquismo humano, teria uma “estrutura fundante e primordial” que teria a capacidade por sua própria dinâmica de gerar energia sexual. Entende FREUD que tal estrutura poderia ser parcialmente percebida pela cognição, inteligência, e os cinco sentidos operando, mas que ao mesmo tempo pertencesse não a processos motores e de percepção – mas da própria energia que nasce no sistema ICS para o PCS que circunda um de seus conceitos principais – o inconsciente.
De forma bem simplificada, o inconsciente humano teria a capacidade por sua própria dinâmica enquanto estrutura central do psiquismo humano através de lapsos, falhas, esquecimentos, a análise do discurso de direcionar energia sexual (ver do conceito catexia) do próprio inconsciente até o sistema motor do sujeito (homem ou mulher). Tal situação estabelece uma espécie de axioma da psicanálise. Ora, não somente os claros resultados positivos da clínica, mas a própria manifestação do inconsciente sob inúmeras formas já configuraria um axioma ou até (se mais ajustados) o início de alguns teoremas em psicanálise.
Ao leitor, pode soar como uma defesa irrestrita à psicanálise – onde na verdade seria todo esse corpo teórico e seu movimento clínico enquanto FERRAMENTA que pode ser usada ou não em intervenções pedagógica situacionais. Os ganhos são inúmeros dando uma segurança muito grande ao educador na resolução de alguns conflitos que podem surgir dentro e/ou fora do ambiente escolar sobre não só o descobrimento do corpo aos pré-adolescentes para na resolução de conflitos dos pais, tutores ou responsáveis sobre um gesto, um ato, ou palavras dos alunos de séries iniciais que remetem às dimensões justamente dessas representações sociais da sexualidade – geralmente sob o senso comum e de forma despreparada e insegura.
Entende-se como representações do social, os conceitos (que por serem sob um senso comum, ou doxas avulsas são na verdade preconceitos) que são formados na história e que para a escola, uma vasta gama de imagens difusas e distorcidas do professor, da escola, da Igreja, do Estado enquanto indutor ou opressor do conhecimento, do corpo, das regras e limites desse corpo para com o corpo do Outro (ver do narcisismo do eu e do conceito de espelho lacaniano). Em outras palavras, para o artigo, falar dessas representações sociais, é falar do imaginário, é falar das imagens, dos imagos parentais que também ajudam a compor justamente as “imagens rascunhos” que temos de nós mesmos, do Outro, do papel do professor em sala, do papel da escolas e até dos fins da educação onde a sexualidade teria tudo haver com o que fora descrito. Representações sociais que não representam os profissionais da educação, mas que é repassado e reproduzido sem qualquer crítica ou reflexão.
Lembramos ainda que quando falamos em sexualidade não são somente os processos fisiológicos e motor/sensitivo dos sentidos na hora do ato sexual, mas todos esses fenômenos fisiológicos , que principalmente sob uma estrutura do psiquismo inerente a todo humano e que de forma invariável caracterizaria nossa incompletude.
À frente, veremos outras nuances, outras justificativas para a INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA, advindas da Psicanálise, mas aqui – como ferramenta segura de intervenções pedagógicas situacionais balizadas por ampla literatura clínica com resultados satisfatórios pensando em pequenos ou até grandes conflitos educacionais entre pais e filhos, entre alunos e professores, entre educadores e projetos de políticas públicas para a educação em termos não somente de higienização/profilaxia do corpo mas de tratar naturalmente toda uma matriz de simbolismos advinda da sexualidade e que o educando das séries iniciais já possui parte dessas estruturas – mesmo antes da dialeticidade social, do contato com o social.Um ponto de inflexão da Psicanálise com outras correntes para se explicar a vida mental. Lacan chega a afirmar agudamente que é parte dessas estruturas inconsciente são herdadas pelos pais (não como algo localizado em algum gene no DNA), mas como uma espécie de amálgama entre o psiquismo do pais em questão.
Enquanto educadores não dá mais para aceitar ligar o noticiário e ver dizeres do tipo: “Ah, matei por amor”, “Ah, esse aí matou por que a mulher não prestava mesmo”. Sem contar com os machismos irredutíveis, espancamentos diários contras as mulheres, a violência verbal e como diz FOUCAULT, pequenas humilhações, pequenos gestos de sectarização social, ou como “pequenas punições” ajudariam a traçar essas representações que de tão sutis permeia até o inconsciente humano e que poucos se apercebem, enraizando cada vez mais essa cultura machista.
A história da humanidade é a história do roubo e da violência armamentista organizada. ENGELS, F. (1881) possui manuscritos incompletos que trata da violência enquanto formadora e indutora do sistema capitalista. Violência essa que também é simbólica. E o simbolismo do tema é complexo e polissêmico para todos.
O fato de perceber que a imagem que temos de nós, para LACAN é a imagem constituída pelo Outro e por reminiscências mnemônicas (fragmentos selecionados da memória – termo freudiano) e que não só a incompletude, mas nosso estado de incompetência para com a realidade é que se tem não mais a relação entre loucura (para Lacan um espectro de psicoses) e um problema moral, o louco para Lacan não é necessariamente um “imoral”, mas por vezes uma patologia da psique (aqui é em strictum sentido psicanalítico) e que possivelmente, por ser numa estrutura da linguagem, pelo próprio ato terapêutico, o próprio ato de falar, traria a “cura” para tais desequilíbrios, justificando mais uma vez as possibilidades dessa ferramenta para o acompanhamento pedológico e pedagógico dos alunos e alunas das séries iniciais.
Na tentativa de defender nossas “ancoras teóricas”, encontramos algumas contra proposições de alguns outros educadores sobre a questão. Escutamos nas contra argumentações: “Ah, mas Freud era um viciado em cocaína e só tratou ou diagnosticou mulheres da alta sociedade vienense, queria ver a aplicação freudiana para os pobres ou para outros povos, com outra língua, cultura e forma de ver o mundo. Freud era um mistificador.”.
De fato, possíveis boas contra argumentações, mas ainda estaria longe de colocar em xeque toda a obra freudiana e seus conceitos e axiomas – por que segundo o próprio FREUD (1900) “a luta ainda não terminou” e a resistência permanece ainda implacável para com seus escritos. Mas, por outro lado – o que dizer das dezenas de centenas de casos de analisados e analisadas (educandos ou não) em todo o globo que se beneficiou do movimento psicanalítico e da clínica em si – e isso não somente para a alta sociedade das mulheres vienenses, mas uma psicanálise para todos.
Um verdadeiro cisma na Psicologia após Freud se estabeleceu. Enquanto contemporâneo do doutor Freud, o também psicólogo Vigotski trataria de descartar uma espécie de determinismo estruturalista, introduzindo no homem – uma entidade quase que sobrenatural, ou metafísica – justamente um dos conceitos fundamentais de FREUD que seria o inconsciente e suas manifestações perceptíveis e que por assim ser, poderiam ser teorizadas e estudadas.
Anteriormente, dissemos que nosso objeto se delimitaria nos seguintes termos (ver item “j”): Representações sociais do corpo humano na História da Educação Brasileira e a psicanálise enquanto ferramenta para compor intervenções pedagógicas situacionais nos espaços escolares em educandos das séries iniciais.
Pensando mais especificamente no nosso objeto de pesquisa, a psicanálise se mostra como ferramenta pedagógica de grande valia, por que o comportamentalismo skinneriano pode também reduzir o comportamento sexual em sua caixinha de estímulos, retornando toda uma ampla discussão sobre a validade epistemológica desses campos mas no caso da psicanálise o educador pode explorar o imaginário e o mundo lingüístico/simbólico dos educandos em suas dúvidas, ansiedades, transtornos, dilemas, desafios, desejos incontroláveis de fazer sexo (muitos pela primeira vez)...
E com isso, para os educadores – uma confiança e uma segurança muito grande de não mais tratar dúvidas, ansiedades e dilemas com mais ensinamentos duvidosos ou que gerem mais dilemas – mas com a forma ponderada e analítica propriamente dita de encontrar de forma situacional a melhor resposta para “problemas” que para muitos educandos iniciais tem uma dimensão imensa – mas que poderá refletir somente uma forte angústia ou ansiedade sobre os novos desafios vistos na escola pelos iniciantes.
Novamente, não se trata de fazer da escola um divã coletivo, ou uma clínica onde todos serão colocados dentro de um diagnóstico em SID. Não se trata disso – trata da percepção do educador(a) das séries iniciais em utilizar essa ferramenta (a psicanálise) de forma circunstanciada e situacional na resolução das questões da própria escola, em termos de conflitos próprios dos pré-adolescentes e até de pais – excluindo aqui qualquer tipo de prescrição médica de fármacos (o que também existe na clínica).
Em outras palavras, seria se aperceber no ambiente escolar e na prática de fato, que conflitos e dramas se desenrolam em cada história educacional – mas para as séries iniciais a percepção de que, nem todo comportamento ou verbalização de cunho sexual “disso”, ou “daquilo”. Mas manifestações normais, em educandos que ainda está significando seu meio escolar externo e principalmente estão descobrindo e fazendo “n” inferêncais do que é ser homem ou mulher. Não se trata de colocar no divã discentes ansiosos e petulantes, discentes desequilibrados e mimados ao extremo (início da erotização do corpo do bebê pela mãe), mas da procura do optimum em termos de adaptação das virtudes da clínica em termos de ações pedagógicas situacionais.
Para o artigo, entende-se como intervenções pedagógicas situacionais no trato com o corpo e com o corpo do outro seria dizer que o educador de posse das virtudes advindas da psicanálise pode ou NÃO intervir pedagogicamente em situações do tipo: “Olha professora, ontem vi o Carlinhos manipulando o pênis. Ele tem somente cinco anos – o que devo fazer? Isso é grave? Tem cura? Pode tratá-lo? Qual remédio você receitaria?”. Dentre outras proposições escorregadias aos pedagogos(as), algumas até proibidas legalmennte.
Ora, pedagogo(a)/professor(a) não prescreve remédio de forma alguma. E no sentido da desconstrução desse discurso, quem disse que manipular o pênis é um desequilíbrio? Quem disse que é grave? Aliás, o que o papai ou a mamãe entende como grave? Seria mesmo uma questão de tratamento visando uma “cura”? Tocar o próprio corpo é uma doença? Será que essa seria a melhor abordagem para o problema pai e mãe?
Seria justamente nessas situações que as intervenções pedagógicas de forma SITUACIONAIS apareceriam. E isso vai mais além do ato pedagógico de dizer em termos profiláticos no trato com o corpo que a limpeza genital da menina deve ser feito necessariamente da vagina para o ânus e não ao contrário, podendo acarretar infecções vaginais com o contato com as fezes ,e no caso do menino se limpar “certinho” – mas iria mais além. Tendo em posse o conhecimento teórico – auxiliaria no trato inclusive não somente de atos pedagógicos/educativos no trato com o corpo (em termos de higienização geral), mas de atingimento de questões simbólicas e do imaginário da criança seria tão quão importante do que ensinar corretamente uma menina a limpar-se após a evacuação ou em seu banho.
Tudo isso já gera uma enorme demanda pedagógica posterior e psicológica também, mas o objetivo aqui é justificar que nossas intervenções pedagógicas situacionais justamente pelo conhecimento da psicanálise para fugir de fato – do senso comum que diz: “Não mostre, não toque, não pergunte e até não pense sobre seu próprio corpo...” isso por que o “pênis e a vagina são algo sujo e imoral e que não devem ser discutidos na escola”..
Assim, partes dessas representações sociais se explicariam justamente pelo estágio do espelho em cada psiquismo. Tanto professores, quanto alunos e também os pais – não possuem uma clareza conceitual do que somos em termos do que percebemos na sociedade e em nós mesmos. Isso se dá, por que a imagem que é formada do pedagogo(a) durante a história são imagens fragmentadas e distorcidas e que podem ser explicadas por Lacan em seu conceito de espelho. Para a pedagogia, uma boa ferramenta teórica para lidar com baixa auto-estima, visões obcecadas não necessariamente sobre o falo ou sobre a vagina, mas por um pensamento, uma sugestão externa.
O caráter polimorfo do psiquismo infantil nos remete diretamente à facilidade de manipular, de moldar, de controlar docilmente, de sugestionar ou de fazer a criança se auto-sugestionar pelo que o educador diz, fala, sente ou vê – inicia-se de forma irrevogável no ato educativo processos de transferências e até contra-transferências (termo freudiano).
Mas isso não se torna uma contradição, mas sim a percepção de que não só a pedagogia, mas a psicanálise são também uma ética. E isso implica dizer que a todo o momento não somente pais e educadores TOMAM DECISÕES, mas também expressa ao aluno(a) iniciante que eles devem tomar parte de suas próprias decisões.
À frente, veremos alguns outros bons argumentos sobre a essa sexualidade que está sendo mapeada e também sobre a prática pedagógica orientada pela pedagogia e seus saberes, mas também pela psicanálise e suas experiência da clínica na resolução de demandas escolares.
É na lida com o filho que a mãe, através do aconchego do colo materno e levando a criança ao seio para se alimentar que o bebê experimentará um momento pleno de satisfação que, a partir de então, tentará repetir inúmeras vezes, contudo sem jamais consegui-lo. Aquele primeiro momento é irremediavelmente perdido e é denominado por Freud de primeira experiência de satisfação, que se dá através do ritual de amamentação, higiene, limpeza, carinho e brincadeiras, que por sua vez, começará a marcar, a pontuar o corpo da criança, dando suporte ao desenvolvimento psicosexual, que resultará, entre outras coisas, na constituição do corpo erógeno, a qual relaciona o corpo investido libidinalmente, sabendo-se que a libido é a energia da pulsão sexual.
O desenvolvimento psicosexual humano se dá no entrelaçamento das fases oral, anal, fálica e genital, havendo uma predominância na organização da libido, característica a cada uma delas. Nesse movimento constitutivo, a relação com a mãe é da maior importância, porque é ela quem fornece ao filho informações que permitirão a construção, pela criança, da imagem e percepção de si mesma. As palavras ou os significantes virá sempre carregado de conotação fornecidas e interpretadas pela mãe e internalizadas subjetivamente pela criança.
A possibilidade para a criança de representar psiquicamente o que vê e o que ouve lhe permitirá a conquista consecutiva da simbolização. A simbolização é a representação indireta de uma idéia, de um pensamento, de um desejo. É a aquisição dessa possibilidade que permitirá ao ser humano, entre outras coisas, lidar com a angústia por meio de representantes simbólicos que a abrandem ou dissipem. Adquirida essa capacidade, deslocamentos e condensações, metáforas e metonímias serão recursos sempre utilizados para lidar com a angústia e os conflitos psíquicos. Os sintomas neuróticos serão oriundos desse movimento. Nesse sentido, portanto, a neurose é uma conquista positiva, constituindo-se em uma saída na luta do conflito psíquico. O maior ou menor grau de sucesso nessas passagens será responsável pela melhor ou pior resposta do indivíduo em seu comportamento e em sua relação com as pessoas e com a vida.
Sendo a escola um lugar, institucional, de transmissão de saberes e apoiando-se sobre uma atividade intelectual do aluno, temos que re-avaliar sobre o que fundamenta o desejo de aprender do aluno, o funcionamento e o destino das pulsões da libido, que está diretamente ligada a esse desejo, a maneira pela qual se opera sua sublimação.
A escola também reproduz a idéia, assim como Freud afirma, que “sexualidade” foi restringida à “sexualidade genital”, a qual é entendida como um fenômeno decorrente diretamente do orgânico, do biológico, e cuja função se limita à reprodução, com o objetivo de perpetuação da espécie. Freud observará que esta limitação da sexualidade à reprodução ocorreu ao longo de um processo de exclusão que foi levado a cabo por motivações de ordem moral e religiosa, de modo que, ao final, a sexualidade somente não foi totalmente excluída da vida humana porque não havia um outro meio para a propagação da espécie.
A criança possui desde cedo o princípio, o instinto e as atividades sexuais (FREUD,1910), cabem aos professores a compreensão de que a sexualidade é uma expressão do instinto sexual, que ao contrário do que muito se pensava, a sexualidade infantil existe desde seu nascimento, a qual se mantém inata e irá se aflorar na puberdade, que na realidade é o resultado, caminhando para o final- fase adulta-, de um processo de desenvolvimento que se inicia em seu nascimento.
Cabem aos professores, afrontar valores éticos e morais estabelecidos há muito tempo, valores esses que se formaram na maioria das vezes com imagens “sujas” do corpo humano, principalmente a representação do corpo feminino. De modo que as pessoas, ao não reconhecerem a sexualidade infantil, elas, “... com isto estão bloqueando seu caminho para a compreensão da sexualidade, das perversões e das neuroses” (FREUD, 1917, p.364). Dito de outro modo, a descoberta da sexualidade infantil ocorreu no âmbito da clínica, e mostrou que, no decorrer do processo de desenvolvimento, o instinto sexual interfere diretamente na estruturação do aparelho psíquico do ser humano.
Segundo o Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) “a tendência predominante na abordagem de conteúdos na educação escolar se assenta no binômio transmissão-incorporação, considerando a incorporação de conteúdos pelo aluno como a finalidade essencial do ensino”(PCN ,1997, p.51). Ora, se a tendência é internalizar esses conteúdos, verbais e não-verbais, a criança, por acidente, pode internalizar preceitos que conduzam a sexualidade como algo perverso. Como educar então essas crianças, já que, qualquer explicação que os educadores proporcionarem a uma criança, não vai adiantar, uma vez que, muito do que fora explicado, nada iria servir para a mentalidade infantil se o seu inconsciente não se satisfazer com tais explicações. Justamente por isso que o próprio inconsciente da criança irá gerar as suas próprias explicações sobre a sexualidade. Novamente, mais um argumento demonstrável por si só (axioma) para demonstrar a mecânica e a dinâmica desse inconsciente no psiquismo infantil.
Nessa perspectiva, os professores devem abordar o seu conhecimento, sem resumir-se a métodos pedagógicos ou clínicos, pois tais métodos trilham objetivos, resultados e metodologias, uniformizando assim o aprendizado e não respeitando as estruturas inconscientes do subjetivismo. O professor deve lidar com uma sala de aula, negando todo o seu papel repressor imposto culturalmente e aceitar que cada aluno irá digerir o conhecimento proporcionado por ele de uma maneira singular, ou seja, o aluno só irá aprender aquilo em que verá algum sentido, tendo em vista as suas necessidades psicológicas inconscientes.
O PCN traz a “abordagem do corpo como matriz da sexualidade tem como objetivo propiciar aos alunos conhecimento e respeito ao próprio corpo e noções sobre os cuidados que necessitam dos serviços de saúde. A discussão sobre gênero propicia o questionamento de papéis rigidamente estabelecidos a homens e mulheres na sociedade, a valorização de cada um e a flexibilização desses papéis” (PCN,1997. P 28). Mas essas abordagens e questões éticas são tratadas nas aulas de ciências, muitas vezes ancoradas as aulas de religião – onde mais uma vez volta-se a visão orgânica em detrimento uma dimensão simbólica/imagética. O que reflete mais uma vez a “sexualidade como algo exclusivamente a reprodução da espécie” ou algo visto como “profano” nas vistas cristãs.
As aulas de ciências enfocam a reprodução de espécies e os temas sobre sexualidades, são vistas como algo a parte, ou um bônus, não havendo espaço para nenhum tipo de comportamento advindo da pulsão sexual. Como entrar com o tema “sexualidade” na aula de religião? Uma aula repleta de pudores onde as crianças irão internalizar cada vez mais esse falsos valores.Como afirma Safouan (1977), o desejo é a inteligência (a métis). Desejos mais ou menos avisados da ironia involuntária que há na fórmula de Spinoza: “O desejo é a essência do ser”.

3 - Conclusão

Vemos que a sexualidade possui inúmeras dimensões e sentidos. Na história e para o ensino dessa sexualidade – muito se falou, muito se interpretou – mas geralmente tais interpretações não conseguiram avançar em detrimento a visão biológica/orgânica dessa sexualidade. Surge a Psicanálise como ponto de inflexão dessa única visão da sexualidade – a orgânica e passa a explicar de forma aguda e demonstrável que, tal fenômeno possui dimensão simbólicas e lingüísticas e que também tem uma raiz profunda na estruturação do sujeito, onde parte dessa sexualidade se estruturará na infância e que seguirá outras dimensões para além de Édipo, constituindo complexas relações phállicas (de poder para Lacan) no trato com o mundo. Para os educadores a percepção de que essa ferramenta (a Psicanálise) pode ou não ser usada em termos circunstanciais (dependeria muito da situação prática na escola) trará ganhos incalculáveis na resolução de alguns conflitos próprios da escola contemporânea.

4 – Referências

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FREUD, Sigmund. Conferência XX – A Vida Sexual Dos Seres Humanos. Rio de Janeiro: Imago, 1976. Vol. XVI da Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, (Conferências Introdutórias sobre Psicanálise – Parte III).
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SAFOUAN, Moustapha. A sexualidade feminina, na doutrina freudiana. Rio de Janeiro: Zahar Editores,1977.

Primeira versão publicada em - Brasília, 18 de Julho de 2011 - em co-autoria com a Pedagoga Renata C. Acatauassu.

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