sexta-feira, 5 de agosto de 2011

HEB- Rápidos relatórios críticos (filmes)






Assunto: Rápidos relatórios críticos sobre os filmes da HEB: A missão, O manifesto dos pioneiros de 1932, O manifesto de 1959 e Homo Sapiens 1900.

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Sobre o filme – A missão

Em algumas anotações bem iniciais sobre o fenômeno da sexualidade vemos o quão polissêmico e difuso podem ser alguns fenômenos na História. E isso que tentamos ao máximo delimitar essa sexualidade dentro de uma linha teórica, mas essa vinculada aos fenômenos educacionais - faces desse fenômeno simplesmente nos escapa da cognição.
O que seria mais difuso do que esse objeto de pesquisa seria tentarmos fazer um retorno aos tempos dos jesuítas no Brasil, mais especificamente nas condições ambientais da tríplice fronteira entre Paraguai, Argentina e Brasil sob o comando da Santa Sé na expedição de São Miguel e esses atores atuando na Educação brasileira em contato com índios – veríamos que a difusão do conhecimento pelo jesuítas era uma educação religiosa mas também de um caráter antropológico imenso. Em trechos do filme com DeNiro e Irons (1986) toda uma descrição das habilidades e capacidades espirituais dos índios que o clero local – variava entre a concepção bestial do índio e até em hipóteses de que o mesmo de fato era um homem, possuía uma alma cristã. São fascinantes os conteúdos dos diálogos de avaliação do ser índio pelas autoridades eclesiásticas em detrimento um claro etnocentrismo europeu.
Os primeiros contatos foram violentos, extremamente difíceis mas fascinantes – dada as perspectivas na interação do branco europeu com índios guaranis e outras etnias. O crescimento da influência das forças espanholas e portuguesas na exploração de madeira, minério e pedras, temperos, frutas, carnes conservadas ao sol/sal, e a difusão de monoculturas e fixação dessas forças espanholas trouxe genocídio étnico, mas contraditoriamente – segundo a edição de A MISSÃO (1986) progresso e desenvolvimento.
De forma muito interessante os embates teológicos e principalmente escolásticos a respeito dos “novos” homens das Américas acontecia internamente entre os jesuítas mas também entre jesuítas e autoridades eclesiásticas com mais peso na hierarquia da Santa Sé.
Os julgamentos sobre a humanidades dos índios são épicos e que derivam de amplas correntes filosóficas que visavam alem da ascese (práticas espirituais que visavam a plenitude da vida moral) essas práticas e vida cristã em choque com homens que tinham o céu e a terra, a natureza as matas e os animais como companheiros. Lugar esse “residência” do demônio, do desconhecido, do paganismo.
A verdade historiográfica demonstrável se mistura com a ficção da sétima arte onde no final do filme – aldeias em chamas mas índios em marcha sendo guiadas pelo ostensório e pela cru e uma guerra travada a base mosquetões e muita pólvora, ajudou a compor as cenas finais desse filme que pode revelar muito sobre as práticas de subsistência e as práticas culturais entre os índios na tríplice fronteira e durante séculos pelos jesuítas portugueses e espanhóis. No final uma mea culpa das autoridades da Igreja em dizeres do tipo: “Fomos nós que fizemos o mundo deles assim....”.


Sobre o Manifesto dos Pioneiros 1932

O manifesto dos Pioneiros de 1935 para a educação brasileira foi um ponto de inflexão sobre o fenômeno escola no Brasil. Num total de 26 intelectuais, sendo três mulheres – o manifesto de 32 como ficou conhecido dizia que a escola deveria ser para todos. Isso incorria dizer que deveria ser: pública, gratuita, laica e obrigatória. Pública, por que deveria ter como seu ator principal o Estado, que de forma intencional deveria assumir a responsabilidade pela educação enquanto direito fundamental, assim como a vida. Gratuita por que deveria ser para todos, literalmente todos os cidadãos brasileiros – rico ou pobre, de família abastada ou miserável, simplesmente para todos e por assim ser deveria ser sem qualquer custo ao cidadão – o Estado financiaria a Educação ( pelo menos o ensino fundamental).
Esse mesmo espaço educativo, esse mesmo lócus principal da Educação, deveria ser laica, desatada de fazer seus planejamentos, de incluir x ou y conteúdos, de conduzir sua didática sem depender de nenhuma doutrina religiosa, líder religioso. Somente a questão da laicidade promoveu centenas de artigos e centenas de ações políticas para promover ainda mais o papel das instituições religiosas na difusão do conhecimento. Não se poderia colocar em xeque nascimento virginal de Cristo, dos dogmas cristãos, da feitura de seus milagres, da exegese e da hermenêutica “correta” do Cânon, da incompetência sistêmica dos quadros eclesiásticos frente ao pensamento científico ou por outro lado na manipulação do mesmo – justamente por entender o pensamento científico mas não divulgar e democratizar para todos.
No prosseguimento dos embates ideológicos – essa mesma escola descrita no manifesto de 1935 também deveria ser obrigatória no ensino fundamental. Isso se daria para garantir que tal direito seja cumprido, ou que pelo menos fique claramente identificável na legislação sobre as novas diretrizes da educação até o momento.
Esses violentos embates, esse claros embates ideológicos existem e persistem até os dias de hoje -que são mais sutis, mas dóceis (ver Foucault) ainda por que a tempos que o mercado, vê na Educação uma gigantesca fonte de renda.

Sobre o Manifesto de 1959


Logo após a aceitação, na política brasileira do substitutivo da LDB na época que culminou na Lei 4.042 de 1961, conhecido como o substitutivo Carlos Lacerda – a educação pública brasileira passou a ter nesse substitutivo:
a) A prioridade da política educacional para as escolas particulares e para a elite brasileira da época em detrimento às escolas públicas;
b) A desregulamentação estatal do ensino privado (primário, secundário e técnico);
c) O financiamento, inclusive das instituições educacionais em isenções fiscais, de terras dentre outros deixando a educação pública novamente num segundo plano.
Lembramos que a vinte e cinco anos antes, no manifesto de 1932 com os pioneiros da educação já se denunciava as ações unilaterais do governo e elite na educação pública e nas instituições educacionais públicas.
Na verdade, o que estava em jogo, era uma clara guerra ideológica entre o modernismo na educação, entre as reverberações dos intelectuais e dos principais educadores já na década de trinta em detrimento uma matriz de pensamento religioso/conservador e unilateral que com a influência política e de autoridade que já possuía (quem, em pleno crescimento do catolicismo/protestantismo no Brasil) seria capaz de colocar em xeque – a excelência do ensino confessional em detrimento uma escola pública para todos – literalmente todos.
Ora, a escória da Grécia foi a escola grega antiga – onde somente vagabundos, estudantes errantes, raramente crianças e/ou mulheres e marginais poderiam fazer parte – se projetou (guardada suas devidas proporções) e suas devidas contextualizações históricas, evitando assim anacronismos na escola pública do ocidente vinte séculos depois.
De forma invariável, novamente quase três décadas depois, a educação pública voltada quase à estaca zero (exceto sobre sua organização) em detrimento à sectarização do conhecimento pelas elites eclesiásticas e políticas da época que ajudaram a concretizar o substituto Lacerda para as diretrizes da educação na época.Lamentavelmente, as vozes como ABRAMO, MEIRELLES, TEIXEIRA e demais, foram caladas por novamente o autoritarismo legalista das elites que via na escola pública novamente uma “fábrica” da escória social. Então por que investir nela por uma política perene e estatal, sendo que a mais de séculos as escolas religiosas e particulares já o fazem com maestria?

Sobre o documentário Homo Sapiens 1900

A eugenia é um assunto que possui uma fundamentação ideológica quase que irretocável. Só que aparências enganam e em termos de ciência, podem enganar muito. As aparências são as melhores quando pensamos no melhoramento humano em termos éticos mas e quando a eugenia se identifica com genes e fenótipos?
Podemos facilmente demonstrar por ampla literatura paleontológica, arqueológica e bio-evolutiva que a filogenia humana é uma só, se diferenciando inclusive em genótipos mas em termos sem qualquer peso em termos de genética em torno de 0,000035% e mesmo assim não configura processo de especiação*.
A eugenia pode ser tão extrema que afirma que negros, ou judeus, ou deficientes físico ou mentais são “outra” espécie, são bichos, são animais...
De forma a pensar numa cladística (termo biológico evolutivo) em sistematizar durante o período histórico um e somente um filo do homo sapiens sapiens, mas que se olharmos nesse mesmo esquema em clados dos hominídeos, vemos que a evolução trouxe antes de nós, inúmeros outros filos, de primos nossos como uma sequência que rasamente descrita pode ser em termos de:
a) Os primatas (toda a família... aproximadamente 350 espécies – incluindo o homem contemporãneo);
b) Dentro do grupo dos primatas filos do tipo antropomorfos antigos ramidus A., Afarensis A.;
c) Depois os proto-humanos – Australopitecus, Habilis, Erectus;
d) Um ponto de inflexão no homo Ergaster;
e) Finalmente um filo identificado como homo sapiens e de forma concomitante no tempo cronológico (a aproximadamente 20 mil anos sem mudanças genotípicas) outro filo de proto-humanos – o homo de neanderthal, sendo que esse último, extingui-se e o filo dos homo sapiens permaneceu e se espalhou pelo globo com uma certa estabilização* de espécie (termo evolutivo – ver MUSSOLINI, Gioconda et al para a literatura sobre cladística, anatomia comparada etc.
Quem assina essa cladística, rasamente descrita aqui por nós é a Doutora em Antropologia – CHALUB, Leila (2008) em informações colhidas verbalmente e em sala de aula – pelo curso de Pedagogia da UnB em 2008.
Tudo para demonstrar que o filo é o mesmo, mas o pensamento eugênico – distorce pelas aparências agora de variáveis fenótipos estabelecidos em inúmeras etnias e até culturas.
O assunto é complexo e que não poderá ser de forma alguma reduzida nesses rápidos relatórios críticos, mas o poder de tais ideologias, sem qualquer demonstração epistêmica não deve ser fomentada. O motivos vão do nazi-facismo até uma plena sectarização social, agora não somente pelo fenótipo, mas pela língua falada, pela cultura professada, pela educação tida, pela não opção do discurso único do capital na coisificação do homem e hominização das coisas. Instala-se no próprio homem o pensamento eugênico que com uma boa retórica e apoio financeiro institucional e para pesquisa – a projeção de bons resultados na agricultura e pecuária para a espécie humana.
Em termos finais para esse rápido relatório sobre o documentário Homo Sapiens 1900 – vemos que o ser humano, guiado por ideologias é capaz de literalmente tudo – da mais genuína abstração matemática para o bom uso na engenharia até mapeamentos genéticos para adjetivar “pureza” biológica e ora – se podemos colocar uma pureza biológica, podemos impor para esses homens de sangue azul – uma pureza moral/espiritual. Novamente – instala-se no pensamento eugênico –que o torto, que “feio”, que o incompleto, que o deficiente, que o cego, que o humano com hidrocefalia, que o humano com Síndrome de Down ou Asperger (uma síndromes da categoria autismo).
Rapidamente, afirmar de forma direta que quenianos são campeões de maratona por que são quenianos em última análise é uma falácia muito sutil de non sequitur – isso se explica por que para “alguns” uma grande parte dos casos a proposição torna-se verdadeira mas é um argumento falso e situacional (por isso uma falácia non sequitur) por que se observarmos nos históricos das provas de maratona por exemplo no Brasil, tem-se também cidadãos campeões da Ethiópia, Rússia e quase na mesma proporção de latinos/brasileiros também campeões juntamente com os fenomenais quenianos em provas de atletismo de fundo.
A polissemia da eugenia não se perpetra enquanto virtude científica mas por “furos” teóricos irreparáveis elevando essa forma de pensamento para uma ideologia com resultados horríveis para a humanidade – principalmente quem não constitui biologicamente de genes do “tipo” europeizado e com o pensamento cultural judaico-cristão, e de entendimento jurídico existencial dentro do capitalismo enquanto discurso pregado como o mais racional e por alguns como discurso e forma de viver única (a capitalista).


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©2007 '' Por Elke di Barros