quarta-feira, 28 de julho de 2010

Crítica Historiográfica Maxiana sob os pontos dos Annales





Crítica historiográfica maxiana sobre os principais pontos da historiografia dos Annales sob o parâmetro da práxis política dentro de um determinado momento histórico e suas respectivas composições de forças políticas.


Ponto principal 1 – passagem da História – “narração” para a História “problema”;

Delimitação e classificação historiográfica relativa. Problematizar a história em método científico pode ser mera narração formal/documental, mas em termos de práxis política ainda não atinge pela prática política consciente a realidade da sociedade humana.Dentro de um movimento dialético objetivando uma prática política concreta e transformadora, de que adiantaria problematizar melhor a História em boas teorias? De que adiantaria o entendimento hipoteticamente mais clarificado de um determinado fenômeno tratando, sem mesmo saber como utilizar tal conhecimento para transformar sua sociedade. Possibilidade de acerto teórico mas inocuidade prática? Contraditório.

Ponto principal 2 – o caráter científico da história é dado, mesmo que se tratando de ciência em construção;

Tal problemática é de extrema importância. Em sentido historiográfico, a teoria maxiana tem um determinado escopo de tratativas que não pretende ser a palavra final em historiográfica, nem mesmo afirma em sentido absoluto somente a dinâmica das classes antagônicas (Oprimidos e Opressores) como motor da história. Contribuições ao cristianismo primitivo, a forma acurada de descrição de inúmeros fenômenos sociais na França do século dezenove, não restringe nem imputa a teoria maxiana tal determinismo, mesmo por que em questão de feeling histórico, Marx dominada como ninguém a dialética temporal (dos fatos sociais da Europa e globo no século dezenove) e sequer poderíamos falar de atuação incompleta sob a variável cultura nas determinações históricas. . Em termos de envergadura científica, ambas correntes (maxiana e Annales), ou somente um grande tronco de idéias sobre o real metabolismo da História daria uma melhor explicação aos fenômenos sociais possibilitando pelo entendimento material/cultural emancipar os esfarrapados de Freire e se possível a elevação do índice de GINI e IDH ao estrato social pobre paralelamente ao aprofundamento de uma conscientização política.

Ponto principal 3 – contato e debate com outras ciências sociais (adoção e problemáticas, métodos e técnicas);

Dentro da teoria maxiana et al, identifica-se também uma delimitação clara de objetos e fatos históricos, de problematizações específicas do momento histórico de Marx et al, ou queria os críticos de Marx, que o mesmo profetizasse pelo poder do achismo, ou pela retórica erudita e revisionista, nuances do epifenômeno capital e algumas dinâmicas sociais?

Traçar esboços em prospecções fundamentados em quadros probabilísticos foi escopo de Marx, mas não pretendia o mesmo esgotar as possibilidades de alguns de seus objetos. Sob a análise do epifenômeno do capital, Marx tem a envergadura de poder ser em sentido historiográfico, o maior autor (em sentido de objetividade e acuramento) na análise da sociedade capitalista. Por isso ser paradigma epistemológico acerca do objeto capital e produção material. Em detrimento a corrente Annales, em sentido historiográfico a obra maxiana atende a todos os critérios do ponto 3 e demais pontos indo inclusive aos objetos acima citados ao extremismo conceitual – virtude da teoria maxiana.

Ponto principal 4 – Ampliação dos limites da História, abrangendo todos os aspectos da vida social: civilização material, poder e mentalidade coletivas;

Em sentido maxiano, a civilização material é plenamente abordada – inclusive sob a excelência histórica de seu materialismo histórico/dialético. Acerca do poder, também faz inúmeras considerações sobre mudanças estruturais do centro de gravidade do comércio mundial, da nova dinâmica do mundo do trabalho pós revolução industrial e a admissão de que a instituição da ordem vigente, de estados “soberanos” foram obtidos dentro de um processo histórico violento e opressor. O fatalismo da luta de classe é argumento pernicioso em se tratando da existência de um gradualismo pedante* que somente tenta rebuscar em “maiores problemáticas” alguns fenômenos já bem mapeados não só por Marx, mas inclusive pelo próprio entendimento da ciência História.
*Vide Mészáros – Para além do Capital e Educação para além do Capital.

Ponto principal 5 – insistência nos aspectos sociais, coletivos e repetitivos;

A identificação de uma proto-sociologia em Marx et al já identifica inúmeros fenômenos secundários de análise em Marx at all que também aborda a coletividade e padrões sociológicos.

Ponto principal 6 – ampliação da noção de fonte para além da escrita (vestígios arqueológicos, tradição oral etc);

Aqui reside um paradoxo analítico, solicita-se cientificidade em Marx, mas considera como determinante na historiografia, ou no método historiográfico, tradições orais que podem ser totalmente ideológicas e aculturadas? Destituídas de um vínculo transformador ou de relevância histórica/sociológica no entendimento de um determinado fenômeno se temos por base, justamente a realidade material do seres humanos? Sob causa e efeito dentro de uma sequência de fatos sociais sensíveis no tempo/espaço concebe-se qualquer tradição oral ou se mata a sede primeiramente? Notem que nem um nem outro se auto-excluem ou se contrapõem.

Ponto principal 7 – construção de temporalidades múltiplas, ao contrário do tempo linear e simples historiografia tradicional;

Como a forma de pensar da teoria maxiana é dialética, fulcrada em fatos sociais e sob uma extensa análise sociológica sobre o capital e sobre o funcionamento e consequências dessa sociedade, também admitia-se a temporalidade dos fatos sociais como não linear e de dinâmica própria – evidenciado o respectivo estado da arte social. Como a História vai se renovando a cada salto de entendimento dentro da ciência – não pretende a teoria maxiana ser uma panciência história, mas uma teoria que dentro de seus principais escopos ter inclusive poder prospectivo real na descrição de nuances da sociedade capitalista aquém de seu tempo. Aceita-se a teoria maxiana como paradigma sociológico e também histórico – mesmo não tendo absolutamente nenhuma intenção de abraçar todo um método voltado à historiografia. O entendimento de marxismo profético – atinge somente ao marxismo vulgar – uma frugalidade apressada em analisar toda a teoria maxiana dentro de seu momento histórico, caindo assim em anacronismos e/ou em ideologia.

Ponto principal 8 – reconhecimento da ligação indissociável e necessária entre passado e presente no conhecimento histórico, reafirmando-se as responsabilidades sociais do historiador;


O entendimento em panorama histórico permeou todos os trabalhos e escritos de Karl Marx at all, inclusive obtendo poder generalizante em nuances do comportamento da sociedade capitalista. Torna-se fato o conceito da mais-valia, do processo de fetichização da mercadoria, da dialética aplicada como ferramenta analítica na descrição de fatos sociais do passado e apontar correlações válidas à dinâmica que presenciava na sociedade européia no século dezenove. Inclusive indo além – tonando-se paradigma à historiadores e demais cientistas sociais. Seguindo tal lógica, as conclusões que Marx obteve em seu livro O Capital e demais obras, guardadas suas proporções sociológicas e históricas Marx ainda nos ajuda a inclusive pelo atual momento histórico presente – enxergar mais claramente o futuro da sociedade capitalista.

Conclusão

Vemos que a formalização de classificações historiográficas entre Annales e “Marxismo” ainda não responde às necessidades concretas de uma ciência História em consonância ao momento histórico presente. Problematiza-se em maior agudez, mas não se transforma o atual estado da arte?Problematizar em maior agudez uma historiografia para a prática política pode soar como automatismo pedante, ou erudição inócua. L’art pour l’art de Nietszhce?

Somente uma convergência e absorção de ambas correntes historiográficas (que vise a práxis política) e com o apóio inclusive das ciências exatas ou naturais, que algumas dinâmicas históricas e a própria História poderá se obter uma abordagem mais real, mais acurada e com possibilidades de descrever a realidade existencial num determinado tempo histórico. O autor não relativisa a queda da bastilha na França como FATO social pela convergência de historiadores, mas relativisa a formalização de classificações definidas como Annales e Marxismo tendo por parâmetro uma concreta prática política dentro de um determinado momento histórico. Afinal, tratar de História e trata-la sim de forma teórica e científica, mas visando ações de transformação social. Caso contrário, identifica-se a “L’art pour l’art” de Nietzsche ou uma forma incompleta de ver a História – pela doce ilusão do eruditismo teórico e/ou pelo eruditismo egoístico.


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©2007 '' Por Elke di Barros