quarta-feira, 7 de julho de 2010

OVP - A Abordagem Sócio Histórica (Bock, S)



SEMINÁRIO: Orientação Vocacional Profissional – Fonte: Orientação Profissional: A abordagem Sócio-Histórica – Cap. 04 - (BOCK, Sílvio Duarte - 2002).




Introdução





1) Contextualização Histórica



O universo do trabalho é um universo complexo e se tratado de forma superficial muito de sua característica enquanto fenomenologia estritamente humana se perde em pedantismos ou malabarismos “teóricos”. Segundo F.Engels: “Nenhuma mão simiesca conseguiu fabricar um machado de pedra”, e assim sendo, por uma abordagem histórica, vemos que o trabalho, atrelado à sociedade que ora produzia de forma feudal primitiva, com uma formação familiar e com um trabalho ainda não “proletarizado”, com uma forma de produção pré-capitalista e que com o passar do tempo, passou a produzir em série, pela revolução industrial, onde tudo possibilitou um violento êxodo de povos do campo para a cidade e numa também violenta configuração assalariada do mundo do trabalho – onde o discurso ideológico e técnico psicométrico tentará colocar como fato social e profissional a idéia de “o perfil certo no cargo certo”.

A abordagem sócio-histórica se apresentará, portanto, numa dimensão como diz, histórica e que trata o trabalho como fenômeno complexo, polissêmico e multidimensional, mas também se apresentando como um constituinte ontológico do homem.

Ou seja, a espécie Homo Sapiens Sapiens se apresenta enquanto espécie inteligente pois possui em sua trajetória evolutiva, o constituinte trabalho que facilitou a transformação da natureza em bens úteis (fabricação de ferramentas, domínio do fogo, agricultura, química, escrita etc) e também propiciou a transformação de “antropomorfos” (Ver Engels e Marx – O papel do trabalho na transformação do macaco em Homem) em homens de fato, não uma linhagem de símios ou “antropomorfos”. Exemplo: Australopitecus.

Para o autor BOCK toda essa gama de variáveis tanto de natureza filogenéticas quanto filosóficas ontológicas mas voltado para o mundo do trabalho contemporâneo e seus conflitos, perspectivas e possibilidades. Ainda, como metodizar uma avaliação, ou um programa para melhor mapear possibilidades profissionais certas e viáveis para orientandos que precisam ter tal demanda NO espaço escolar, tentando vincular educação e trabalho, o mundo do trabalho e o mundo da formação profissional.



2) A Proposta de Orientação Profissional na Abordagem Sócio-Histórica



O autor propõe uma abordagem sócio-histórica quanto à orientação profissional, já que considera inadequada a proposta liberal, pois essa realizava e ainda realiza a orientação profissional por meio de modelos de perfis, ou seja, considerava que o homem é composto por vocação, porém, na visão do autor, o homem não nasce determinado biologicamente para nenhuma atividade específica, ao contrário, cresce, desenvolve-se e adquiri habilidades por meio da relação com a natureza.

Nessa abordagem tem-se como principal representante Vygotsky, que aborda o conceito de zona desenvolvimento proximal, onde o indivíduo internaliza suas vivências e a partir dessas trabalha-se em cima da zona de desenvolvimento proximal.

O autor, como não concorda com o modelo que foca em perfis profissionais, vê o quanto é necessário desenvolver outro modelo de aproximação do indivíduo. Veremos a frente o que dirá a proposta do autor BOCK para a questão.

Nota-se que o as escolhas do indivíduo sempre estão relacionadas aos outros e que esse indivíduo nunca pensa em sua profissão de forma abstrata, “despersonificada”, mas cristalizando suas relações interpessoais passadas, presentes ou futuras, ou seja, o constrói seu entendimento por uma determinada profissão a partir do que vive, da internalização do vivido, resultado da dimensão histórica da construção da identidade.

O indivíduo pensa e se imagina em uma profissão a partir de sua vivência, de contatos pessoais, da exposição da mídia, do relato das experiências de outras pessoas. Dessa forma, o indivíduo constrói a “cara” de um profissional ou de uma profissão, porém, como essa “cara” é formada a partir da vivência e internalização de cada um, sempre será visualizada de forma diferente para cada pessoa.

Na abordagem sócio-histórica nota-se também, que na orientação profissional, faz-se necessário profissionais de várias áreas, para que o fenômeno da escolha profissional do indivíduo seja compreendida com o aporte das mais variadas ciências e estudos de casos.

Outro de ponto de relevância nessa abordagem, é que o orientador profissional não fará um diagnóstico ou um prognóstico como fórmula de decisão, como assim era feito na abordagem liberal, mas sua estratégia é gerar condições para que o próprio indivíduo faça sua reflexão e decida por sua escolha profissional, entendendo de forma mais ampla as determinações dessa escolha.

Por isso, a forma de trabalho, acontece em grupo, pois dessa forma há como aprender com as dificuldades, opiniões, valores, interesses e projetos de vida do outro. Um aprende com o outro e percebe que não há um único caminho a seguir.

O autor propõe um programa, divido por módulos, que levarão a escolha profissional do indivíduo. Onde o indivíduo poderá entender o significado da escolha, se conhecer, conhecer as visões dos outros, conhecer as várias profissões, fazer trabalhos que exemplificam a prática das profissões.



Síntese do PROGRAMA (Cap. 04 - BOCK, Silvio Duarte p. 83 em diante).



Primeiramente o autor traz, sob um interessante viés teórico entre psicanálise e outras ciências um programa de análise (profissional/vocacional) que é composto por três módulos em quinze sessões assim dispostos:



MODULO I - O significado da escolha profissional



1) Tornar o programa de acesso fácil e de mútuo conhecimento de todos visando integração (aqui da própria equipe);



2) Constituído por três partes: o mercado de trabalho, os meios de comunicação e o vestibular. Aqui para a orientação vocacional -os educandos que estão prestes a escolher uma profissão, (geralmente educandos "vestibulandos") que antes do vestibular, expõe os prós e contras de cada profissão segundo sua visão e valores e contingências envolvidas no problema posto.



3) Constituído por duas partes ou assuntos:



3.1) A relação de gênero e escolha;

3.2) Desempenho escolar e escolha;



Numa formulação pela analogia do "procedimento do sorvete", para colocar em pauta novamente a questão da "escolha" da "liberdade de escolha da profissão" tudo pela perspectiva HISTÓRICO-CULTURAL ou SÓCIO-HISTÓRICA.



E por assim ser, pela abordagem ser histórica (essencialmente), tanto o homem, quanto trabalho, quanto sociedade vieram se constituindo por mudanças mas com períodos de falsa estabilidade sócio/econômica.



Nos dias de hoje, a sociedade capitalista irá pautar a discussão da escolha da profissão, nas virtudes da democracia, como a liberdade de escolha para justificar a estrutural alienação do trabalho, da divisão do trabalho, de sua hierarquização, verticalização ou centralização dos meios de produção que faz possível esse ou aquele trabalho de fato.



Por outro lado, a educação, a atividade docente, pela alienação do capital, ou da sociedade capitalista em sua atuação no universo do trabalho (Ver ANTUNES et al) se configura em vez de profissional em proletária (Ver SOARES, S e BOAS, B - 2010).



Retornando para a analogia do procedimento do sorvete, o autor fará um levantamento das variáveis que influenciam a escolha de um sorvete x ou y por um cliente a.



Assim, com variáveis do tipo cor, sabor, cor da etiqueta do balcão o autor procura mapear causas da escolha ou da "não escolha" de uma profissão.



Diante disso, faz um levantamento de uma série de hipóteses que podem explicar essa "escolha" pelo procedimento do sorvete, ASSIM COMO, por analogia, o educando também fará sua escolha profissional.



4) Nessa sessão procura-se fazer uma síntese das atividades anteriores visando fortalecimento do grupo de orientação vocacional.



5) Nessa sessão, os educandos e futuros profissionais são sugeridos a construírem duas empresas, uma no setor primário outra do setor secundário da economia.Tal atividade visa o entendimento do conceito de trabalho genérico, ponto de partida para uma discussão mais aprofundada;



MODULO II - O Trabalho



6) Seguindo o raciocínio temático da quinta sessão, aprofundar a discussão do universo do trabalho, agora dentro da sociedade capitalista;



MODULO III - Autoconhecimento e formação profissional



7) Propõe o jogo das fichas das profissões que visa a formulação de críticas às classificações das profissões. Pressume-se que a formulação de críticas à profissão venha agregado à pesquisa sobre as profissões em si - justificando a validade em termos de formação profissional;



8) Aqui, seria a etapa da APLICAÇÃO do jogo das fichas das profissões, que visa a confrontar dados e verificar "identificações" do educando com a profissão;



9) Atividade da lã.Nessa nona etapa/sessão os educandos/orientandos são divididos em dois grupos para refletirem em conjunto, em GRUPO, sobre o que seria possível construir com inúmeras tiras de lã de várias cores. Aqui, o objetivo é verificar se realmente foi possível trabalhar em grupo, não o resultado do produto em si;



10) A décima sessão, visa analisar o cotidiano de cada participante estruturando as questões com grupo de perguntas do tipo: “tudo o que você quer”, “tudo o que você tem que”, “você tem medo de” para dar vazão a essa análise - tudo vinculado à escolha profissional;



11) Atividade/jogo da Imagem. A atividade consiste em fazer uma lista de nomes dos orientando, atribuir um hipotético presente a esse educando mas que esteja vinculado à "imagem" profissional que aquele educando transmite. Visa também não julgar o educando mas discutir sobre as imagens que formamos dos nossos colegas e de profissões;



12) Atividade/jogo do Governo. Essa atividade consiste numa situação hipotética que: Imagine que o governo de um país tenha a autoridade para decidir sobre cada profissão as pessoas devem exercer. Poderia, o povo, solicitar mudança a cada ano e quem decidiria o pleito seria um tribunal. A sala seria dividida em dois grupos: Solicitantes e Juizes. A atividade visa sistematização do universo das profissões e até da legislação que rege a profissão escolhida;



13) Propor nessa atividade um relaxamento muscular e que o orientando possa visualizar (sem qualquer pressão ou imediatismo ou modismos) um "espaço ideal" para que possa executar sua profissão;



14) Propõem-se a feitura da primeira síntese - Chamada Síntese Afetiva: Imagina-se num ambiente propicio, que o educando agora um futuro profissional imagine sua despedida da escola e que imagine seu ambiente de trabalho;



15) Denomina-se a fase da síntese final e avaliação da qual consistirá uma prévia organização das informações colhidas durante todo o programa (módulos e sessões) para primeiramente caracterizar "o meio", "caracterizações pessoais" e "interesses profissionais" e depois, cada educando/orientando irá concluir objetivamente sobre sua "escolha", seguindo de uma apreciação final do orientador vocacional.

Conclusão



Que a abordagem sócio-histórica sobre o universo do trabalho, conjuntamente com o universo pedagógico nos possibilita ver o homem, sociedade, trabalho, escola e meio por uma visão histórica – com características de mudança na forma de produção, de governo, institucionalmente, ética e moralmente e por assim ser, tanto as variáveis que compõem o universo pedagógico quanto o complexo mundo do trabalho não podem ser tratado por metodologias que ainda não alcançam a realidade dos fatos. Metodologias essas para indicar o perfil “certo” para o cargo “certo”, passa pela perspectiva socio-histórica a ter tratamento multidimensional, complexo e por uma confluência de ciências que são ou seriam capazes, não de fazer prognósticos rasos, fazer pseudociência, mas trazer problematizações acerca das profissões, sistema de governo, sociedade e de como fazer a “escolha” (aqui, sempre relativa) pela profissão certa; dado os desafios de hoje, os desafios objetivos contemporâneos (da escola e trabalho) ambos tendo seus devidos reflexos na sociedade e produção capitalista.



Referências Bibliográficas:



BOCK, Silvio Duarte – Orientação Profissional: A abordagem Sócio-Histórica – 2002;



ENGELS, F; MARX, Karl: Do Papel do trabalho na transformação do macaco em homem 1ª Edição Neue Zeit – 1896 – Pelo Portal Marxist.org - (2004) – Acesso em junho de 2010;



BOCK, Silvio Duarte – Orientação Profissional: A abordagem Sócio-Histórica – 2002 - Apud Vygotsky em conceituação pedagógica de: Zona de Desenvolvimento Proximal;



ANTUNES, Ricardo – Da conceituação de trabalho em obras: Os sentidos do Trabalho – Boitempo – 1999;



SOARES, Sílvia Lúcia; BOAS, Benigna Mª de F. Villas – Em artigo – Trabalho docente: Profissionalização ou Proletarização? – 2010;

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©2007 '' Por Elke di Barros