sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Destino do Brasil 2 - Antropologia da Educação




Antropologia e Educação - Um completivo antropológico ao destino do Brasil. Referencial teórico - O Povo Brasileiro (RIBEIRO, Darcy).

a) – A Antropologia como ciência acadêmica;
b) – O etnocentrismo, os relativismos culturais e a Educação;
c) – O destino do Brasil – Crítica ao livro (O Povo Brasileiro – Darcy Ribeiro).

a) – A Antropologia como ciência acadêmica; ¹²³

A Antropologia como ciência acadêmica, teve inúmeras influências teóricas como o evolucionismo de Lamarck, Darwin e Wallace, a difusão da psicologia, agora a lidar com os fenômenos do homem em sua cultura. A forma difusa pela qual até tem termos cunhados dentro da Antropologia, perfaz essa grande ciência, admitida em todas as grandes academias.

A Antropologia como ciência acadêmica, lida com inúmeras contribuições teóricas e de observações em todo o globo, tendo fixado de forma única, algumas contribuições inestimáveis.

O pensar Antropológico se dará no entendimento da necessidade de que para se entender uma nova cultura ou simplesmente aceita-la, uma cultura exótica, deve-ser ter como forma de observar uma outra cultura, o desprendimento, a não aceitação de tudo que lhe é familiar, isso por que, deve-se relatar o que foi observado e somente o que foi observado, sem achismos, sem tendências e sem pré-julgamentos.

A Antropologia nos remete a essa forma de pensar, por que a impessoalidade na ciência e também na Antropologia (que é uma ciência) deve necessariamente condizer com o que foi observado. A dificuldade aumenta se a cultura possuir conteúdo que fere os valores e a moral do observador.

Na idade média/medieval, pela falta de conhecimento e de observação de outras culturas.As culturas não européias eram consideradas bárbaras, atrasadas e/ou demoníacas. A impessoalidade nos relatos não era vista. Alguns historiadores se apresentam com algumas exceções, mas por muito, a ciência e o entendimento mais agudo da natureza humana, foi concentrado e manipulado por instituições religiosas e ligadas às nobrezas, senhores feudais, aristocratas, novos capitalistas – dependendo do período inserido dentro do fenômeno social e do fenômeno capitalismo.

A Antropologia, ciência concebida para estudar o homem e sua cultura - no desprendimento do que lhe é familiar, trouxe algumas dificuldades à própria Antropologia e ao pensamento do homem ocidental e acostumado à forma de viver eurocêntrica.
Os resultados foram infindáveis debates sobre a existência de uma ou algumas “raças” humanas superiores, predestinadas por deus, ou mais inteligentes, mais sábias que outras. Justificativas essas que não encontram fundamento na história e nem mesmo nos estudos da própria Antropologia. Tais justificativas geralmente advêm de religiões sectárias, pelo pensamento eugenista e também pela não organização da sociedade em torno desses problemas ideológicos.
Tudo também justificado palidamente para não atuar nas reais tensões sociais e no comportamento violento e autodestrutivo do homem contemporâneo.
A ciência Antropologia seguirá seu curso em diversas teorias e fará interessantes comparações entre evolução e cultura. O evolucionismo na Antropologia seguir basicamente três vertentes uma unilinear, outra multilinear e a assimétrica. Cada qual, com seus argumentos prós e contra, mas em termos gerais, seria o para o Antropólogo o trabalho de construir modelos de comparação entre culturas de forma impessoal e histórica para explicar melhor por que algumas culturas desenvolve um sistema religioso outras nem tanto? Os modelos de comparação não seria comparação moral/moralística mas sim científica, sob determinação causal, de desencadeamento dos fenômenos sociais de formação dessa ou daquela matriz cultural.
Por que algumas sociedades consideradas “primitivas” possuem comportamentos complexos das sociedades civilizadas, como por exemplo, a crença em deus, sepultamentos e a utilização de pratos culinários similares ou com os mesmo ingredientes?
Essas questões são bem descritas pela Antropologia que aprofundará suas percepções sobre as visões de mundo e lhes dará sentido estrito científico, no caso desligado de ideologias, ilusões e emoções que impossibilitam uma visão mais nítida da realidade de grupos sociais diferentes, condicionantes e determinantes de sua formação – contribuindo também para uma forma mais acurada de enxergar a natureza cultural do homem.
Todo um universo de cultura imaterial surge sobre essas questões e que por método focal, ou predeterminado, de objeto pré determinado, não abraçará algumas situações e fenômenos sócio/culturais.
Em outras palavras, o Antropólogo sabe que se faziam rituais nos funerais de uma tribo x, mas o significado e o por que dos ritos, das cores e símbolos é que lhe apresenta ao Antropólogo todo o universo da cultura imaterial dos povos – onde não somente um trabalho de campo resolveria as incógnitas, mas sim sua comparação, reflexão sob signos, análise comparativa (científica) com outras culturas.

b) – O etnocentrismo e os relativismos culturais na composição de ideologias;

O etnocentrismo é uma forma de ver o mundo. Uma cosmovisão, que depende de onde o observador reside, vive, aprende, ensina e se relaciona/sociabiliza. Essa visão de mundo terá somente a sua cultura, sua forma de agir e de comportar-se como sendo o centro de todas as outras culturas.
Até certo ponto pode-se justificar pela ativa forma do homem reconhecer de forma quase instintiva aquilo que lhe é familiar, rechaçando ao mesmo tempo aquilo que lhe soa estranho. Como a Antropologia, não está preocupada com uma cultura e sim com todas traz à baila do assunto etnocentrismo explicações de dizeres do tipo: - Isso é trabalho de Paraíba. Ou, que baiano é preguiçoso. Somente como verbalização tendenciosa, preconceito e de não fundamentação na realidade. O etnocentrismo também irá refletir em inúmeros aspectos no trato social.
A Antropologia identifica tais comportamentos dentro do etnocentrismo e por meio da explanação de suas teorias e observações tenta superar o discurso e a forte retórica preconceituosa e etnocêntrica. O etnocentrismo irá se apoiar em relativismos geográficos ou étnicos/religiosos para cometer absurdos civis.
O etnocentrismo se utilizará da ignorância, do auto-engano e das ilusões dos pensamentos superficiais, do senso comum, de determinismos para poder difundir suas ideologias.
Em outras palavras, Everardo Rocha cita logo em seu primeiro capítulo – O que é Etnocentrismo - página seis:

“Assim, a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, enfim, pelas quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções e pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentemente de nós. Esse problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais unanimidade”.


Assim, para dar fundamento ao etnocentrismo, o homem criou um possível relativismo cultural que lida com algumas teses dentro das ciências e das ideologias que, as manifestações culturais deveriam passar por todas elas por estágios pelas quais as culturas mais “evoluídas” também passaram.
Mas vimos que o fenômeno cultural em si, é difuso, não segue uma lógica linear evolutiva (isso em um sentido vertical, de graduações, de valor sob parâmetros éticos e/ou morais, de parâmetro racial, ou de classe, ou de localização geográfica, ou clima etc). Os sistemas culturais diversos seguem seus próprios caminhos, com uma lógica própria e que foi definida pela história, pelo meio e pelo próprio caminhar da cultura no tempo histórico;

A cultura humana é um conjunto de fenômenos humanos, de repasse de conhecimentos práticos, filosóficos, supersticiosos, sagrados, ritualísticos de alto teor significativo para aquele pertencente ao sistema cultural.
Cultura também é conhecimento repassado de geração após geração de forma oral, escrita ou gestual.
A cultura tem uma lógica própria e suas manifestações são sempre moldadas com o passar do tempo. A cultura se dá pelas múltiplas experiências do homem com outros homens e com o meio. Assim, apesar da unidade biológica do homem ser comprovada, suas visões de mundo se diferem e muito, sendo por vezes até diametralmente opostas com relação a algumas variáveis culturais, do tipo religião ou sistema moral;

A cultura opera na sociedade, moldando e dando significado (apesar de difuso ou metafísico pro vezes) “lógico”, ético ou moral para atuar no mundo. Segundo Benedict, a cultura é uma lente através do qual o homem vê o mundo.
A cultura também molda a forma do homem encarar a sociedade, o mundo, determinada o comportamento por vezes, padrões éticos, comportamento sexual, na gastronomia, na língua falada, na divisão do trabalho, no sistema de governo adotado etc.
No plano biológico, um exemplo clássico foi o tráfico de escravos do século XV em diante. Aproximadamente 1/3 dos escravos morriam na viagem por causa de doenças, falta de alimentação principalmente por ter-lhes tirado o “chão”, as “árvores”, o “ar” africano.
Muitos morriam nos navios negreiros por não encontrar mais motivação para sobreviver depois de ter-lhes podado sua cultura. Um exemplo de atuação no campo biológico. A prática cultural também é dinâmica e diversificada, muitos são as tribos que se utilizam de mitos e simbologias para explicar tal fenômeno e outras tribos vizinhas, já pode explicar o mesmo fenômeno de outra forma.
A prática culinária e ritualística também varia muito de grupo para grupo. Por ser dinâmica e multilinear a cultura sempre está em constante fusão de elementos culturais e de “expulsão” de outros hábitos e crenças.
Dentro dessa dinamicidade surgem os processos sincréticos e de formação de outros povos – o povo brasileiro e outros clássicos de nossa literatura demonstrará com o passar o tempo histórico essas mútuas influências culturais e das etnias. Paradoxalmente, o sincretismo como fenômeno social universal, possui inconsistências conceituais, por que o processo que deveria ser dinâmico, multilateral, foi/é/está sendo na verdade um processo aculturado, violento, opressor, estático e conservador – temos no ocidente a matriz judaica/cristã como matriz cultural dominante.
O Educador de posse teórica e de prática vivencial das verdades Antropológicas terá um panorama do que é o homem no planeta, não somente no círculo da própria formação cultural do educador ou do que lhe é familiar, ou do universo de sala de aula mas sim um panorama da situação cultural do homem no globo.
Ora, o educador de posse desses conhecimentos poderá atuar na formulação de propostas e projetos pedagógicos mais inteirados da realidade daquele grupo pelo qual o educador pretende repassar e formar novos educandos.
Também para a Pedagogia não faria o menor sentido o mesmo chegar em uma tribo indígena e começar a “ensinar” sobre a cultura norte-americana, em inglês e sob uma forte visão etnocêntrica de um cidadão de Londres? Faria sentido e existiria a concretização do processo ensino-aprendizagem? Obviamente que não. E isso não por dificuldade lingüística não por não acontecer identificação cultural.
Portanto, tal processo de ensino não pode de forma alguma atropelar a cultura local dentro de uma perspectiva pedagógica. Deve sim o educador, perceber a cultura local e trazer objetos e comportamentos significativos para aquela cultura para aí sim, tornar o processo de ensino aprendizagem mais adequado e eficiente para determinados grupos de atuação. Pode-se infelizmente e até de forma inconsciente, educadores favorecerem um processo de aculturamento, de opressão e de alienação, pela própria condição aculturada, mecânica, estática, conservadora, opressora e alienada que os próprios educadores se encontram. Uma diária e lúcida percepção de nossa ignorância, geral fazem-nos naturalmente avançarmos pelo universo científico da incerteza, da experimentação e evolução. Admitir humildemente o não saber sobre determinado objeto é admitir humildemente que o não saber – remetem-nos naturalmente a uma reflexão mais aprofundada do objeto a que não se sabe – assim caminha o entendimento científico. Não é uma ajeitada filosófica ao axioma socrático: “- Só sei que nada sei.”, mas sim uma necessária cautela em determinados objetos sociais, que por serem sociais trazem significações diversas.

c) – O destino do Brasil – Crítica ao livro (O Povo Brasileiro – Darcy Ribeiro).

No livro – O Povo Brasileiro, em o destino do Brasil cita página 4447-448:

“Nunca houve aqui um conceito de povo, englobando todos os trabalhadores e atribuindo-lhes direitos. Nem mesmo o direito elementar de trabalhar para nutrir-se, vestir-se e morar. Essa primazia do lucro sobre a necessidade gera um sistema econômico acionado por um ritmo acelerado de produção do que o mercado externo dela exigia, com base numa força de trabalho afundada no atraso, famélica, por que nenhuma atenção se dava à produção e reprodução de suas condições de existência. Em conseqüência, coexistiram sempre uma prosperidade empresarial, que às vezes chegava a ser a maior do mundo, e uma penúria generalizada da população local”.

Em todo o livro O Povo Brasileiro – Darcy nos informa que a sociedade recém “descoberta”, a Ilha Brasil possui até os dias de hoje, uma sociedade sob três características básicas e fundamentais:

1 – Agrária na estrutura social;
2 – Escravocrata (na exploração econômica e na divisão do trabalho);
3 – De formação híbrida (recebendo etnias da África, os índios nativos e o povo europeu – principalmente o português).

Nesse sentido, a formação histórica do o povo brasileiro teve em sua composição todas essas influências que culmina ou que culminará em uma sociedade ainda muito violenta, alienada, famélica como cita Darcy e completamente atrasada em relação às emancipações civis e naturais dos mais pobres em outras regiões do globo.

A produção brasileira de bens e produção de alimentos era voltada para a exportação de commodities e demais matérias-primas também para o exterior.
Nessa situação, nesse contexto histórico, Darcy Ribeiro enxergará o Brasil como uma sociedade em aberto, pronta para o futuro mas com inúmeros problemas de natureza estrutural social para se resolver.
A feitura do Brasil passará pelo reconhecimento de sua identidade cultural, sua personalidade para que se torne uma nação do futuro, cabendo aos jovens e demais concidadãos –construir o Brasil como uma sociedade plural e atenta ao presente/futuro de todos os brasileiros e latinos.

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©2007 '' Por Elke di Barros